despe-se à noite, ela, de toda sua vaidade
tira em peça por peça, um pouco de sua coragem
o mar à sua frente espera o contato
para envolver-lhe depois de dias fartos
nua, ela caminha em direção a ele, atenta
se alguém a visse ali, do modo, berraria: Sedenta!
ele, resplandece de felicidade, ansioso
joga seus braços molhados, puxando-a, sinuoso
entra no mar nu, sem pudor algum
e o mar aos poucos mata seu jejum
banha lancinante, cachonda
sente entre suas pernas a forte onda
o contato fez o mar espumar de satisfação
e do prazer ofegante a calma respiração
da exasperação fez-se o terno
e a lua testemunhou um amor eterno.
Carlos Ant.
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte II
CONTINUAÇÃO DO TEXTO "Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte I"
(...)
Fiquei ali deitado olhando para o teto entorno da escuridão por mais alguns minutos. Pasmo, descompassado, sentindo o sangue correr por minhas veias dilatadas e com o músculo já flácido e melado. Não pensei mais em nada a não ser o motivo pelo qual ela me chamou para aquilo e porque não estava abraçada comigo como fazia antes; mas a verdade, é que eu, pela primeira vez, estava satisfeito demais para me preocupar com ela, deixei de lado meu ego-altruísta para descansar sobre o meu gozo. E é sempre de lei depois de uma foda, bater aquela vontade de mijar. Sai do quarto enquanto ela estava lá, como sempre, em seu egoismo curtindo o próprio gozo. Acho que nem viu quando eu vesti minha calça colocando a cueca em meu bolso e saindo do quarto com a jaqueta em meu ombro, ou melhor, prefiro acreditar que não viu. Ao sair do banheiro, resolvi sair de sua casa também, assim como ela saiu da minha vida. Sem respostas e sem beijo na testa.
Cheguei em casa e capotei em minha cama, porque, é sempre de lei depois de uma foda, sentir uma puta vontade de dormir. Acordei e quase perdi a hora do trabalho, fiz cocô, tomei um banho rápido e me vestir enquanto corria em direção a garagem para me locomover a labuta.
Acordei tão atrasado que já não adiantava correr para ir ao trabalho. Me levantei, cocei minha barba e senti o cheiro de sua boceta impregnado em meus pelos, que ao friccionar com minhas unhas, exalou o ultimo momento que ela foi minha de verdade. Me direcionei ao banheiro para mijar e ao tirar meu pau para fora, senti ainda o cheiro de seu ultimo orgasmo misturado com o meu, e minha urina batizando de dourado o ato escatológico nada pudico. Enrijeci instantaneamente em lembrar dela aberta, entregue para mim. Na madrugada de vinte e cinco de julho de 72, onde marcamos para ser a nossa ultima noite e prometemos nunca mais nos ver.
Cheguei em sua casa, não para conversar, mas para fodê-la, e ela, para se aproveitar disto. Fazendo eu acreditar que eu era seu único homem, como quem me pedisse perdão pela como agiu comigo me cedendo seu cio. Me permitiu ela, na noite passada fazer o que eu bem quisesse com seu corpo. E eu acreditei que eu era seu único homem. Nunca havia fodido sem sentimento algum, sem me preocupar com a parceira, sem querer beijar a boca. Inclusive, já havia de ter posto mais sentimento em simples cumprimento matinal em uma segunda-feira chuvosa do que naquela noite. O modo como ela se contorcia para me satisfazer, de quatro, me oferecendo seu cu, suas pregas, seu ato mais depravado, devasso, pervertido. Me senti como se houvessem me entrego um Oscar. Me perdi em meio ao prato suculento e farto, exposto para meu desjejum, me perdi na linha tênue que ligava seu cu e sua boceta. O gemido que ela fez em discrepância sonora com sua respiração, a quem ouvisse, imaginaria um ataque histérico. Eu imaginava a minha satisfação, um nível abaixo do nirvana. Sexo tântrico nunca foi meu forte, mas estava disposto a passar a noite inteira entrando e saindo dela. Ela, nesta noite, não me enforcou, não tapou meus olhos, não apagou a luz, ao contrário, me mostrava sua nudez e seu líquido que babava todo meu pau; lambia seus seios, apertava-os, me oferecia para partilhar daquele gesto sadomasoquista, e eu, enchia minha mão em suas nádegas já marcadas com meus dedos em vermelho enquanto puxava seu cabelo. Pirei ao ouvir ela me xingar, ordenando que a atravessasse, parecíamos uma máquina. Ela deitada na cama de frente a mim e eu em pé em sua frente. No apogeu da foda já lancinante - por segurarmos os dois o gozo - ela se entrega e lança um grito estremecedor que me fez esporrar tudo dentro dela. Inclinei meu corpo e a abracei. Senti sair a ultima gota quando em seu ouvido, ainda ofegante, disse que ainda a amava.
(...)
Carlos Ant.
(...)
Fiquei ali deitado olhando para o teto entorno da escuridão por mais alguns minutos. Pasmo, descompassado, sentindo o sangue correr por minhas veias dilatadas e com o músculo já flácido e melado. Não pensei mais em nada a não ser o motivo pelo qual ela me chamou para aquilo e porque não estava abraçada comigo como fazia antes; mas a verdade, é que eu, pela primeira vez, estava satisfeito demais para me preocupar com ela, deixei de lado meu ego-altruísta para descansar sobre o meu gozo. E é sempre de lei depois de uma foda, bater aquela vontade de mijar. Sai do quarto enquanto ela estava lá, como sempre, em seu egoismo curtindo o próprio gozo. Acho que nem viu quando eu vesti minha calça colocando a cueca em meu bolso e saindo do quarto com a jaqueta em meu ombro, ou melhor, prefiro acreditar que não viu. Ao sair do banheiro, resolvi sair de sua casa também, assim como ela saiu da minha vida. Sem respostas e sem beijo na testa.
Cheguei em casa e capotei em minha cama, porque, é sempre de lei depois de uma foda, sentir uma puta vontade de dormir. Acordei e quase perdi a hora do trabalho, fiz cocô, tomei um banho rápido e me vestir enquanto corria em direção a garagem para me locomover a labuta.
Acordei tão atrasado que já não adiantava correr para ir ao trabalho. Me levantei, cocei minha barba e senti o cheiro de sua boceta impregnado em meus pelos, que ao friccionar com minhas unhas, exalou o ultimo momento que ela foi minha de verdade. Me direcionei ao banheiro para mijar e ao tirar meu pau para fora, senti ainda o cheiro de seu ultimo orgasmo misturado com o meu, e minha urina batizando de dourado o ato escatológico nada pudico. Enrijeci instantaneamente em lembrar dela aberta, entregue para mim. Na madrugada de vinte e cinco de julho de 72, onde marcamos para ser a nossa ultima noite e prometemos nunca mais nos ver.
Cheguei em sua casa, não para conversar, mas para fodê-la, e ela, para se aproveitar disto. Fazendo eu acreditar que eu era seu único homem, como quem me pedisse perdão pela como agiu comigo me cedendo seu cio. Me permitiu ela, na noite passada fazer o que eu bem quisesse com seu corpo. E eu acreditei que eu era seu único homem. Nunca havia fodido sem sentimento algum, sem me preocupar com a parceira, sem querer beijar a boca. Inclusive, já havia de ter posto mais sentimento em simples cumprimento matinal em uma segunda-feira chuvosa do que naquela noite. O modo como ela se contorcia para me satisfazer, de quatro, me oferecendo seu cu, suas pregas, seu ato mais depravado, devasso, pervertido. Me senti como se houvessem me entrego um Oscar. Me perdi em meio ao prato suculento e farto, exposto para meu desjejum, me perdi na linha tênue que ligava seu cu e sua boceta. O gemido que ela fez em discrepância sonora com sua respiração, a quem ouvisse, imaginaria um ataque histérico. Eu imaginava a minha satisfação, um nível abaixo do nirvana. Sexo tântrico nunca foi meu forte, mas estava disposto a passar a noite inteira entrando e saindo dela. Ela, nesta noite, não me enforcou, não tapou meus olhos, não apagou a luz, ao contrário, me mostrava sua nudez e seu líquido que babava todo meu pau; lambia seus seios, apertava-os, me oferecia para partilhar daquele gesto sadomasoquista, e eu, enchia minha mão em suas nádegas já marcadas com meus dedos em vermelho enquanto puxava seu cabelo. Pirei ao ouvir ela me xingar, ordenando que a atravessasse, parecíamos uma máquina. Ela deitada na cama de frente a mim e eu em pé em sua frente. No apogeu da foda já lancinante - por segurarmos os dois o gozo - ela se entrega e lança um grito estremecedor que me fez esporrar tudo dentro dela. Inclinei meu corpo e a abracei. Senti sair a ultima gota quando em seu ouvido, ainda ofegante, disse que ainda a amava.
(...)
Carlos Ant.
Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte I
A ultima vez que prometemos nos ver foi na madrugada de 1972. Dezenove de um julho chuvoso de 72. Lembro de ter feito, antes de pegar escondido a chave da lata velha de meu pai, um ritual: Entrei embaixo do chuveiro e senti escorrer sobre meu corpo ansioso e quente a água fria. Arrepiei-me com o choque térmico repentino, mas depois de alguns minutos também já estava frio, o que nesta noite me foi bastante proveitoso. Vesti minha velha jaqueta de couro que ela detestava por eu ter ganhado de uma antiga namorada no colegial, minha calça jeans surrada e o inseparável All Star preto de cano longo. É bem certo que não haveria de ser uma daquelas ocasiões extremamente especiais que os envolvidos são lembrados pelo cheiro que se exala; contudo, usei as ultimas gotas do perfume que ela me presenteou em meu aniversário do ano passado, e que só usava em dias especiais. O relógio em meu pulso marcava duas e trinta e quatro, o que significa que teria vinte e seis minutos para o encontro de adeus marcado às três - cujo me preparava desde às uma e cinquenta e sete - em sua casa. Repeti comigo a costumeira frase de proteção antes de sair "Livrai-me de todo mal, amém!" incessantes vezes; com o intuito do meu córtex pré-frontal receber a frase e converter em sensação de segurança para o meu corpo que tremia diante do desconhecido. Abri a porta de casa devagar com as chaves recém roubadas e com o mínimo de coragem que viria a crescer somente no meio do caminho, quando eu havia preparado todos os possíveis diálogos caso houvesse conflito verbal. Quando você se vê em uma situação onde o mal tem grande potencial de ser ascendente, não há outra coisa a fazer se não cortá-lo pela raiz; mesmo que ele esteja impregnado em uma profunda camada de seu coração. Vale lembrar que, independente da ruptura da Veia Cava ou da Artéria Aorta o resultado será o mesmo. Vale salientar aqui também que não se deve esquecer de esterilizar a navalha antes do procedimento.
Cheguei em sua casa sete minutos atrasado, três e sete. Pela primeira vez os sete minutos passaram-lhes despercebidos, o que eu estranhei por ela sempre ficar ensandecida com meus atrasos. Abriu a porta e me estendeu a mão antes que eu hesitasse lhe abraçar. A distância entre seu corpo e a mão com a palma aberta a riste para mim, me fez perceber o quanto somos patéticos em situações que nos obrigam a fingir que toda a situação não passa de uma grande patetice. Aquela mão que balancei com um sorriso sem graça e que delimitava a distância - que me mostrava pela linguagem do corpo que o corpo inteiro não me pertencia mais - não parecia a mesma que acariciava meus cabelos recém molhados do banho pós sexo. Estranhei sobretudo a posição dos móveis, a falta de alguns quadros e porta retratos vazios. Seus cabelos também estavam diferentes, com um corte mais moderno. Sua boca que se movia com falas rápidas parecia que ganharia vida a qualquer momento e se deslocaria; até imaginei seus lábios voando em direção aos meus. Depois de movimentos tão mecânicos quanto os primeiros atos de um recém ator formado no palco, frases prontas com textos ensaiados minuciosamente antes em frente ao espelho e retornar pela décima segunda vez ao silêncio vergonhoso de não ter o que dizer; resolvemos subir para o seu quarto.
Ao entrar, ela que me acompanhava, fechou a porta e as luzes. Abraçou minhas costas no escuro. Despiu-se do seu orgulho inicial mesmo que na penumbra e de seu vestido preto com pequenas pedras brilhantes. Através da pequena fresta que entrava pela janela, e que refratava um minúsculo fulgor, vi seus olhos que me encaravam e eu não os reconheci. Pareciam mais dissimulados que o habitual, oblíquos, mas como Bentinho, também não saberia seu significado. Meu pau logo enrijeceu com o beijo inesperado. Seu beijo não parecia o mesmo - pensei enquanto abria o zipper depois de já ter desabotoado a calça. Recebo um empurrão que também não espero e caio nu na cama que também me parecia ser mais macia. Ansiei em vão por uma chupada; para analisar se era reconhecível ou não passava de mais uma incoerência do que eu um dia imaginei ter certeza. Subiu em cima de mim encaixando sua pelve na minha, colocou com a mão esquerda através de suas costas o meu pau em sua boceta e cavalgou. Suas coxas friccionavam nas minhas e ela sorria - percebi por meus dedos estrem em sua boca - com o roçar de meus pelos em seu púbis pelado. Com a mão esquerda fechava meus olhos - como se pelo breu pudesse eu ver algo; e com a direita tocava seu sexo em movimentos fortes e delicados que fazia eu sentir no final do meu abdome, às vezes, seus dedos que fugiam no melado. Gemia em espasmos frequentes, pressionava-me com suas pernas, sugava, agarrava e mexia-se em meu pau. Eu segurava meu gozo tentando não pensar no que estava fazendo, ou no motivo daquilo tudo estar acontecendo. Até que seus movimentos foram ficando mais calmos, sua mão foi se esquecendo em minha barriga, a outra já escorregava de meus olhos para meu peito e senti ela inclinar-se em mim. Encostou seu rosto suado sobre meu pescoço recém enforcado e disse no meu ouvido com uma voz gemidamente rouca e terna que ainda me amava. Eu gozei, claro. Quem nunca gozou pelo ouvido não sabe o que é orgasmo.
(...)
Carlos A.
Cheguei em sua casa sete minutos atrasado, três e sete. Pela primeira vez os sete minutos passaram-lhes despercebidos, o que eu estranhei por ela sempre ficar ensandecida com meus atrasos. Abriu a porta e me estendeu a mão antes que eu hesitasse lhe abraçar. A distância entre seu corpo e a mão com a palma aberta a riste para mim, me fez perceber o quanto somos patéticos em situações que nos obrigam a fingir que toda a situação não passa de uma grande patetice. Aquela mão que balancei com um sorriso sem graça e que delimitava a distância - que me mostrava pela linguagem do corpo que o corpo inteiro não me pertencia mais - não parecia a mesma que acariciava meus cabelos recém molhados do banho pós sexo. Estranhei sobretudo a posição dos móveis, a falta de alguns quadros e porta retratos vazios. Seus cabelos também estavam diferentes, com um corte mais moderno. Sua boca que se movia com falas rápidas parecia que ganharia vida a qualquer momento e se deslocaria; até imaginei seus lábios voando em direção aos meus. Depois de movimentos tão mecânicos quanto os primeiros atos de um recém ator formado no palco, frases prontas com textos ensaiados minuciosamente antes em frente ao espelho e retornar pela décima segunda vez ao silêncio vergonhoso de não ter o que dizer; resolvemos subir para o seu quarto.
Ao entrar, ela que me acompanhava, fechou a porta e as luzes. Abraçou minhas costas no escuro. Despiu-se do seu orgulho inicial mesmo que na penumbra e de seu vestido preto com pequenas pedras brilhantes. Através da pequena fresta que entrava pela janela, e que refratava um minúsculo fulgor, vi seus olhos que me encaravam e eu não os reconheci. Pareciam mais dissimulados que o habitual, oblíquos, mas como Bentinho, também não saberia seu significado. Meu pau logo enrijeceu com o beijo inesperado. Seu beijo não parecia o mesmo - pensei enquanto abria o zipper depois de já ter desabotoado a calça. Recebo um empurrão que também não espero e caio nu na cama que também me parecia ser mais macia. Ansiei em vão por uma chupada; para analisar se era reconhecível ou não passava de mais uma incoerência do que eu um dia imaginei ter certeza. Subiu em cima de mim encaixando sua pelve na minha, colocou com a mão esquerda através de suas costas o meu pau em sua boceta e cavalgou. Suas coxas friccionavam nas minhas e ela sorria - percebi por meus dedos estrem em sua boca - com o roçar de meus pelos em seu púbis pelado. Com a mão esquerda fechava meus olhos - como se pelo breu pudesse eu ver algo; e com a direita tocava seu sexo em movimentos fortes e delicados que fazia eu sentir no final do meu abdome, às vezes, seus dedos que fugiam no melado. Gemia em espasmos frequentes, pressionava-me com suas pernas, sugava, agarrava e mexia-se em meu pau. Eu segurava meu gozo tentando não pensar no que estava fazendo, ou no motivo daquilo tudo estar acontecendo. Até que seus movimentos foram ficando mais calmos, sua mão foi se esquecendo em minha barriga, a outra já escorregava de meus olhos para meu peito e senti ela inclinar-se em mim. Encostou seu rosto suado sobre meu pescoço recém enforcado e disse no meu ouvido com uma voz gemidamente rouca e terna que ainda me amava. Eu gozei, claro. Quem nunca gozou pelo ouvido não sabe o que é orgasmo.
(...)
Carlos A.
terça-feira, 12 de maio de 2015
Castigo
Um passo em falso e pronto! Estamos na boca do inferno/castigo. Há quem necessite de tais punições, estes são aqueles que não dão mais de dez passos sem tropeçar. Eu por exemplo, não tiro os olhos dos meus pés e ando com a atenção de um neurocirurgião em trabalho - por ter a predisposição em ser um deles. Há também quem não necessite, esses correm em lagos congelados untados com manteiga mantendo a coluna elegantemente ereta como um dançarino.
A pior maneira de castigar um desatento é com a frieza do silencio, quebrando-o de vez em quando com poucas palavras e irônicas. O castigador nada no raso do orgulho em imaginar que está fazendo o correto e sensato, enquanto ao castigado, afoga-se no mesmo rio da incerteza dos fatos. Tolo é quem não consegue discernir entre o ideal e o pitoresco. Vou exemplificar para os leitores que já tropeçaram no inicio do texto e não fazem ideia de onde quero chegar.
Uma ave fez um ninho em uma determinada árvore e ao voar para buscar restos do que poderia servir para a construção do seu abrigo, esqueceu-se de quais das duzentas árvores que haviam no raio de visão do parque estava seu ninho pré terminado. Vamos lá caro e inestimável leitor, o que deve ser feito com a ave desatenta? Observação necessária: Entender a parábola a seguir como algo cotidiano e humano representado por uma ave.
Opção um: Ajudá-la a buscar, como um bom cidadão.
Opção dois: Orientar que seja feito outro ninho, instruindo maneiras para que possa ser melhor identificado.
Opção três: Castigá-la julgando seu erro sem pensar em outras opções.
É natural e quase que inconsciente que o ser humano busque a alternativa mais fácil e rápida de se resolver um problema que lhe aflige, mesmo que a menos ideal dentre a outras, esta será a escolhida. Porque sentimentos a necessidade instintiva de solucionar e pronto - o que pode causar a volta do problema por não haver escolhido a letárgica, porém, eficaz solução.
O castigo, nada mais é que a projeção dos nossos medos de errar em alguém que errou. É caminhar olhando para os próprios pés, esperando que alguém ao lado caia para apontar o dedo e depositar sua ira reprimida em curtos passos, em quem caiu. Pois disse Jesus: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Os homens com seus braços fortes e levantados agarrando rochas com o dobro de seus pesos, prestes a irem de encontro a quem tropeçou, em segundos, lembraram de seus medos e a projeção caiu no chão, o que fez subir a poeira da vergonha. Mesmo Jesus que foi castigado por ter errado perante a visão de alguns. A ideia de erro é pessoal e mutável.
O castigado nada pode fazer se não aceitar pena. Pena que varia de peso; ora pesa uma pena, ora pesa algumas toneladas. O silencio e as metáforas irônicas como escolha de castigo, com certeza, não tem valor palpável, trazendo para o conceito real de punição, equivaleria a morte na cadeira elétrica sem chance de reencarnação.
Carlos Ant.
A pior maneira de castigar um desatento é com a frieza do silencio, quebrando-o de vez em quando com poucas palavras e irônicas. O castigador nada no raso do orgulho em imaginar que está fazendo o correto e sensato, enquanto ao castigado, afoga-se no mesmo rio da incerteza dos fatos. Tolo é quem não consegue discernir entre o ideal e o pitoresco. Vou exemplificar para os leitores que já tropeçaram no inicio do texto e não fazem ideia de onde quero chegar.
Uma ave fez um ninho em uma determinada árvore e ao voar para buscar restos do que poderia servir para a construção do seu abrigo, esqueceu-se de quais das duzentas árvores que haviam no raio de visão do parque estava seu ninho pré terminado. Vamos lá caro e inestimável leitor, o que deve ser feito com a ave desatenta? Observação necessária: Entender a parábola a seguir como algo cotidiano e humano representado por uma ave.
Opção um: Ajudá-la a buscar, como um bom cidadão.
Opção dois: Orientar que seja feito outro ninho, instruindo maneiras para que possa ser melhor identificado.
Opção três: Castigá-la julgando seu erro sem pensar em outras opções.
É natural e quase que inconsciente que o ser humano busque a alternativa mais fácil e rápida de se resolver um problema que lhe aflige, mesmo que a menos ideal dentre a outras, esta será a escolhida. Porque sentimentos a necessidade instintiva de solucionar e pronto - o que pode causar a volta do problema por não haver escolhido a letárgica, porém, eficaz solução.
O castigo, nada mais é que a projeção dos nossos medos de errar em alguém que errou. É caminhar olhando para os próprios pés, esperando que alguém ao lado caia para apontar o dedo e depositar sua ira reprimida em curtos passos, em quem caiu. Pois disse Jesus: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Os homens com seus braços fortes e levantados agarrando rochas com o dobro de seus pesos, prestes a irem de encontro a quem tropeçou, em segundos, lembraram de seus medos e a projeção caiu no chão, o que fez subir a poeira da vergonha. Mesmo Jesus que foi castigado por ter errado perante a visão de alguns. A ideia de erro é pessoal e mutável.
O castigado nada pode fazer se não aceitar pena. Pena que varia de peso; ora pesa uma pena, ora pesa algumas toneladas. O silencio e as metáforas irônicas como escolha de castigo, com certeza, não tem valor palpável, trazendo para o conceito real de punição, equivaleria a morte na cadeira elétrica sem chance de reencarnação.
Carlos Ant.
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Comparações II
É como um soldado que vai à guerra deixando todos os sonhos, família, amigos. Arrisca sua vida por uma ideologia que compraram para ele. De peito inflado e espírito retraído caminha em marcha rítmica constante. Cada passo e cada piso forte no chão um pouco de sua esperança em voltar se dissipa em meio a ideia de batalha; muito mais pessoal, psíquica, do que propriamente dita. Poderia ele simplesmente voltar covardemente, se não estivesse na linha frente, ali com sua cara a tapa. Em sua mão está uma arma que não sabe manusear, irá aprender quando o instinto de sobrevivência falar mais alto. A verdade é que ele já sabe usar, seu instinto de sobrevivência está no limite, afinal, manejar uma arma não requer curso intensivo. Ao visualizar a tropa inimiga, treme e debocha de si mesmo por estar ali. Vê o filme de sua vida passar por sua cabeça e o frio da morte submergir de suas entranhas mais profundas para o corpo todo; quase um parto personificado da fraqueza. É como ser atingido em cheio no braço cujo carregava a arma, sem chance nenhuma de revidar. Nessas condições então cair no chão inconsciente e aparentemente derrotado e sobre ele cair meia dúzia de colegas também temerosos. Acordar depois na enfermaria improvisada e sem o braço. É como voltar para casa depois de tudo, feliz por estar vivo, porém, amputado.
Carlos Ant.
Carlos Ant.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
sexta-feira, 20 de março de 2015
trabalho noturno
em meio às caixas
sobre o calor noturno
trabalho árduo
baixas
tamanho horror
já são quase cinco
as horas dormem
as horas dormem
o sol se perdeu
a fome me toma
sem pudor
o salário
não compra
mas paga
me leva
aos poucos
de dor
o braço é forte
mas só o braço
não merece
valor
sorria para o chefe
põe ponto final
guarda o papel
a poesia acabou.
Carlos Ant.
o salário
não compra
mas paga
me leva
aos poucos
de dor
o braço é forte
mas só o braço
não merece
valor
sorria para o chefe
põe ponto final
guarda o papel
a poesia acabou.
Carlos Ant.
Cipriano
Aos poucos Cipriano foi crescendo e conhecendo o sentido e o significado de tudo, sua madrinha havia de ter lhe dado boa educação, era um jovem conhecedor de arte e de culturas de diferentes países, sabia se portar quando em público, tinha boa sociabilidade, gastava boa parte de seu tempo livre à leitura de bons livros e fazia anotações sempre que possível. Tanto que quando surgia a pergunta dos familiares ilegítimos - que tinha por eles tanto sentimento quanto como se fossem parentescos de primeiros graus - o que viria a ser quando se tivesse a idade para tomar uma função para si, esperavam sempre uma resposta mais consistente, acreditando que o jovem mudaria de ideia sempre que indagado, como médico ou professor por exemplo. Pois respondia sem vacilar: "Escritor" completava ainda: "Quero ser um famoso escritor". Desiludia a família toda com sua réplica, apesar de não ser tão notório assim tal fato. Cipriano desenvolveu-se como toda criança em condições normais, mesmo que com algumas dificuldades. Sua madrinha que a chamava desde quando aprendeu a falar- que inclusive fora sua primeira palavra compreensível - de Ana, apesar de seu nome ser Joana, sempre fizera de tudo para pagar boa escola, comprar boas vestes, livros, mesmo que isso custasse a ela, uma privação de pequenos luxos para si. Antônio carregava no braço um terço da medalha milagrosa como uma forma de manter o único contato de sua mãe consigo, ou como um amuleto que acreditava lhe trazer boa sorte.
Quando completou dezesseis anos, foi chamado em seu quarto por Joana para uma conversa, que ela havia adiado a anos por não saber como elucidar de uma melhor maneira possível. Antes, ela acende um cigarro e traga, tira-o da boca. Olha para o cigarro agora como quem olhasse para uma ampulheta, deixa a nicotina queimar lentamente. Sopra a fumaça e a acha incrivelmente desafiadora agora e queria que a névoa maldita saísse de seu interior com as palavras exatas; que fizesse audível ao pobre rapaz sem que ela precisasse falar nada. Respira fundo e aceita que ela tem que assumir o papel incumbido a ela, promete em seu pensamento que o tempo da espera será marcado pela queima do cigarro, que não tem pressa na combustão. Fato que deixa Cipriano apreensivo, por ver Ana fumando conclui que ela está nervosa, e conclui certo. Ana está frenética e corta o silêncio angustiante pouco antes do cigarro entrar totalmente em combustão:
- Preciso falar uma coisa séria a você, já deveria ter contado antes, mas não sabia como lhe falar - o que é verdade - e estou fumando esse cigarro, não porque eu esteja agitada ou coisa parecida, é por conta do frio que está fazendo hoje - o que é mentira.
- Ana, você sabe que sempre pôde falar o que quisesse comigo, tenho-lhe como minha mãe, isso é imutável. Disse ele em resposta tentando passar uma tranquilidade que ele não tinha naquele momento.
- Querido - despensa sobre a janela a bituca inútil e volta-se a ele - você ainda é muito novo, as pessoas não são tão boas quanto aparentam ser, e o meu maior medo é de lhe perder! - balbuciou ela.
- Pois de antemão fique sabendo que nada que você fez ou fizer me fará mudar de ideia, sei o quanto as pessoas são repugnantes e o que elas são capazes de fazer para conseguir seu objetivo, ao contrário, existem pessoas que são exemplo da existência Deus - disse com um sorriso no rosto fraterno, dando a entender que era dela que ele falava.
- Se você soubesse exatamente o que as pessoas fazem para conseguirem o que querem você sentiria nojo. Chamei você aqui para lhe dizer isto: Não acredite em ninguém, não crie expectativas sobre ninguém! - falou séria lançando um olhar de soslaio ao jovem enquanto se virava de costas - Nem mesmo em mim - finalizou com um suspiro rápido.
- Ana, não estou entendendo o que você quer dizer com isso! Está me deixando nervoso.
- Sua mãe não morreu no parto, eu tirei você dela. Além de você agora, ninguém sabe disso - virou para ele com os olhos cheios de lágrimas e arrependida.
(...)
Carlos Ant.
Quando completou dezesseis anos, foi chamado em seu quarto por Joana para uma conversa, que ela havia adiado a anos por não saber como elucidar de uma melhor maneira possível. Antes, ela acende um cigarro e traga, tira-o da boca. Olha para o cigarro agora como quem olhasse para uma ampulheta, deixa a nicotina queimar lentamente. Sopra a fumaça e a acha incrivelmente desafiadora agora e queria que a névoa maldita saísse de seu interior com as palavras exatas; que fizesse audível ao pobre rapaz sem que ela precisasse falar nada. Respira fundo e aceita que ela tem que assumir o papel incumbido a ela, promete em seu pensamento que o tempo da espera será marcado pela queima do cigarro, que não tem pressa na combustão. Fato que deixa Cipriano apreensivo, por ver Ana fumando conclui que ela está nervosa, e conclui certo. Ana está frenética e corta o silêncio angustiante pouco antes do cigarro entrar totalmente em combustão:
- Preciso falar uma coisa séria a você, já deveria ter contado antes, mas não sabia como lhe falar - o que é verdade - e estou fumando esse cigarro, não porque eu esteja agitada ou coisa parecida, é por conta do frio que está fazendo hoje - o que é mentira.
- Ana, você sabe que sempre pôde falar o que quisesse comigo, tenho-lhe como minha mãe, isso é imutável. Disse ele em resposta tentando passar uma tranquilidade que ele não tinha naquele momento.
- Querido - despensa sobre a janela a bituca inútil e volta-se a ele - você ainda é muito novo, as pessoas não são tão boas quanto aparentam ser, e o meu maior medo é de lhe perder! - balbuciou ela.
- Pois de antemão fique sabendo que nada que você fez ou fizer me fará mudar de ideia, sei o quanto as pessoas são repugnantes e o que elas são capazes de fazer para conseguir seu objetivo, ao contrário, existem pessoas que são exemplo da existência Deus - disse com um sorriso no rosto fraterno, dando a entender que era dela que ele falava.
- Se você soubesse exatamente o que as pessoas fazem para conseguirem o que querem você sentiria nojo. Chamei você aqui para lhe dizer isto: Não acredite em ninguém, não crie expectativas sobre ninguém! - falou séria lançando um olhar de soslaio ao jovem enquanto se virava de costas - Nem mesmo em mim - finalizou com um suspiro rápido.
- Ana, não estou entendendo o que você quer dizer com isso! Está me deixando nervoso.
- Sua mãe não morreu no parto, eu tirei você dela. Além de você agora, ninguém sabe disso - virou para ele com os olhos cheios de lágrimas e arrependida.
(...)
Carlos Ant.
Epístola
Enfeita meu colo o colar de uma tênue corda alaranjada, uma gravata que guarnece e maquila meu total desespero. Sobre a cadeira, em pé, me sinto mais alta e mais eminente, quase narcisista, quase megalomaníaca. Borro meu batom com o rosto de minha mão suada e sinto o vermelho-gosto-sangue sucumbir em minha boca seca. O resto que faço não cobre o drama. Uso meu melhor vestido modelado especialmente para meu corpo e para esta data especial. É especial para mim. O salto preto e de maior tamanho que tenho, as vezes, faz eu adiantar uma possível queda não ensaiada, e quase tropeço. Acho poético o cordão que abraça meu pescoço, lembrando freudicamente o cordão que ligava-me a minha mãe, este segundo pelo umbigo, quando vim ao mundo. Poderia usar a arma que descansa em minha gaveta, guardada para uma dessas ocasiões cujo brincar de ser poeta não me salva mais, mas não posso sujar o tapete de sangue. Ou até mesmo uma faca, que por um descuido gramatical não se tornou um verbo de ação e poderia me custar uma orelha, ou duas, ou três, mas não posso sujar meu tapete de sangue.
Meus pensamentos fluem com naturalidade e lucidez. Seguro a caneta e rabisco tudo o que irá ocorrer, como uma visão de um futuro próximo neste papel em uma imagem digna de abertura de algum filme - dez segundos com a câmera parada em um plano americano e aproximando-se para um plano fechado a se perder em meus olhos de desespero em um plano detalhe - para depois do corte abrupto e dois segundos de tela preta, em plano sequência, explicar o motivo de tudo. Já a cena final é a mesma, porém, desta vez estou a ler o rascunho, ao fundo, um piano triste me acompanha - a câmera faz o revés, saindo do plano detalhe em meus lábios, que pronunciam as ultimas palavras enquanto viva, para o plano médio. A câmera estaciona calmamente ali, em minha frente. Acabo a leitura. Olho para você através da lente, que espera aflito le grand finale. Movimento levemente as articulações do meu joelho para frente. Pode-se observar meu pé direito a convulsionar com o frio instantâneo e inexplicável. E, neste momento o que move é apenas meu pé direito posto à riste. Fecho meus olhos. O piano silencia gradualmente. A expectativa do que se seguirá cresce e eu não penso mais em nada. Aos que leem, arrastam os olhos rápidos à espera da frase exata que se encaixará perfeitamente na suposição já anunciada. Aos que assistem, roem as unhas em um ato ansioso e mecânico. A mim, canto mentalmente uma canção de ninar que não tenho certeza se uma das primeiras que ouvi em vida. "Nan, nan, nan, nan, dorme filhinha, do meu coração, deite o seu sono, sobre esta canção". Em um impulso, jogo meu corpo para frente enquanto com a perna cujo me apoiava empurra a cadeira que cai. Eu escorrego no vazio que ficou entre a cadeira e o chão até ser agarrada pelo pescoço. Estou suspensa agora e abraçada. Sinto um aperto em todo o corpo, que me comprime em um estado de felicidade e acefalia. Me debato, não por arrependimento, mas para tornar a cena mais emocionante e visceral. Premência de me salvar não havia, mas me salvei. Depois de dois minutos de agitação cenográfica acompanhada novamente pelo som do piano - desta vez mais acelerado e grave - cedo à morte e aceito minha escolha. O filme vai escurecendo gradualmente sobre minha imagem intacta em um fade out até não se ver mais nada além da ultima frase que antecederia o "Fim", "Agora descanso de meus pensamentos mais sórdidos sobre meus pensamentos que nunca tive respostas".
terça-feira, 17 de março de 2015
sexta-feira, 6 de março de 2015
Amor platônico
É aquele ônibus? Lá vem ele. Droga tá chovendo! Mas pode continuar, precisamos de chuva. Não precisa empurrar. Este ônibus vai para o bairro Sinhá Sabóia? Não?! Beleza então. Merda! Detesto esperar. Pelo menos aqui embaixo não pego chuva. Lá vem o outro ônibus. Acho que é o que tenho que pegar. Quanto é a passagem? 1,70? Lembro que a ultima vez era 1,50. Onde sento? Ali! Na janela da cadeira mais alta. Vou colocar minha pasta aqui para ninguém sentar ao meu lado, afinal, o ônibus tá vazio e há tantas outras possibilidades de assentos. É interessante o modo como a água jorra quando a roda passa sobre uma poça, mas não é interessante o modo como a água jorra quando a roda passa sobre uma poça e há uma pessoa próxima. Coitada da senhora. Essa parada costuma entrar muita gente, vou tirar minha pasta, não sou egoísta. Mas espero que ninguém sente ao meu lado. Fazendo um calculo rápido, tem mais bancos que pessoas. É, acho que ninguém sentará do meu lado. Poxa, por que ninguém senta do meu lado? Ela ali que ainda está na catraca poderia sentar do meu lado, mas há uma vaga ali no meio. Opa, ela passou da vaga. Ela vai sentar aqui comigo. O que ela olha na bolsa que não senta logo? Fechou a bolsa, sentou. Ufa. Respira ela em tom de desconformidade colocando o guarda chuva em sua frente. Ela se molhou também. O que faço? É... Vou tentar demonstrar que não tô apaixonado por ela. Por que diabos eu me apaixono tão rápido? Vou esperar ela virar para olhar para ela. É, ela é bonita. Opa, opa, sinal alerta, está mexendo no cabelo. Encostou de leve seu cotovelo em minha barriga enquanto abria a bolsa para pegar... Pegar o que que tanto mexe? Ah, um livro. Qual será o título. Nesse meu ângulo de visão lateral não se dá pra ver muita coisa. Também não quero parecer muito insolente. Tirou a caneta que marcava o livro. Sinal alerta de novo, mexeu no cabelo. Encostou de novo o cotovelo em minha barriga. Certo, agora é o celular. Fones? Droga, agora ela ficará incomunicável caso eu crie coragem para puxar assunto. O que será que ela tá ouvindo? Já sei! Vou colocar meu corpo contra o dela levemente quando o ônibus virar aquela rua, afinal de contas, a inércia foi feita justamente para isso, unir casais em curvas de coletivos. Deu certo. Será se ela percebeu? Acho que não. Deveria ser mais agressivo, mas tô sem cueca e isso pode ser arriscado demais - se é que alguém me entende. Qual será sua parada? Já sei, vou perguntar as horas. Oi, que horas são? Me mostrou as horas no celular e não tirou os fones, significa que não tá afim. Obrigado! Disponha. Espera, aquilo foi um sorriso? Que voz bonita. Preciso escrever o que eu tô pensando. Preciso dizer que tô apaixonado. Assim mesmo, com muito ponto final e sem muitos detalhes. Só meus pensamentos e frases ditas. Curtas. Vou escrever quando chegar em casa. Me apaixonei por uma linda menina que sentou ao meu lado no ônibus. Mas preciso saber seu nome, de onde ela é. Mexeu no cabelo de novo. O fone não estão mais em seus ouvidos. Certo muchacho, essa é a hora de iniciar um diálogo mais consistente. Que música você está ouvindo? Desculpa, sou curioso. Ela riu. Percebi. Me deu um fone. Pensei milésimos de segundos antes de colocá-los: Se for Chico Buarque eu peço ela em casamento agora mesmo. Não era. Não casei. É uma boa musica para se ouvir em ônibus esta. Voltou para o início da música. "Pela janela eu vejo..." é verdade, é uma boa música para se ouvir ônibus. Você vai descer onde? A pergunta que eu deveria ter feito, ela fez. Na penúltima parada e você? Na ultima. Eu também, coincidência. Mora por aqui mesmo? Não, moro do outro lado da cidade, vim visitar minha prima e é a primeira vez que venho neste ônibus. Tem Facebook? Não. Certo, ela não tem Facebook, significa que ela não quer contato após chegar ao nosso destino. Mas tenho Whatsapp. Retiro o que pensei. Poderia me passar? Sim, claro. Bolso, outro bolso. Pensei: Porra, esqueci a merda do meu celular em casa. Disse: Esqueci em casa, você poderia anotar? Isso, essa é a deixa para ela abrir a bolsa e eu perguntar qual livro ela está lendo. Zipper. Qual livro você está lendo? Ah, é este que peguei na biblioteca da faculdade que tentarei entrar este ano. Quantos anos você tem? 17. Dois anos mais nova que eu. Interessante... Colocou o guarda chuva um pouco de lado e anotou em um papel apoiando-o nas costas do banco da frente, o que fez, com o movimento, sair o primeiro número um tanto quanto torto. É um nove? Risos. Sim é um nove. Risos. Resolveu apoiar em suas coxas. Anotou e colocou seu nome. Kecya. Como é seu nome? Carlos. Kecya, Carlos.
Kecya...
Carlos Ant.
Kecya...
Carlos Ant.
terça-feira, 3 de março de 2015
perspectiva
Os dias voltaram a ter uma grande significância para mim,
e eu já começo a achar engraçado como as coisas se deram no fim
Meu inferno astral acabou exatamente quando eu comecei a achar que seria eterno
E o caos que estava plantado em minha vida já começa a tornar-se mais terno
O sonho da viagem para o país vizinho, a esperança da faculdade esquecida
A mudança de perspectiva e a espera da felicidade um dia pra mim prometida
Não penso mais no arsênico, chumbo ou gás de cozinha
arma, bala, corda ou falta de esperança na vida que não tinha
Personifiquei nela mais uma vez minha salvação
das pessoas loucas deste vasto mundo cão.
Carlos Ant.
e eu já começo a achar engraçado como as coisas se deram no fim
Meu inferno astral acabou exatamente quando eu comecei a achar que seria eterno
E o caos que estava plantado em minha vida já começa a tornar-se mais terno
O sonho da viagem para o país vizinho, a esperança da faculdade esquecida
A mudança de perspectiva e a espera da felicidade um dia pra mim prometida
Não penso mais no arsênico, chumbo ou gás de cozinha
arma, bala, corda ou falta de esperança na vida que não tinha
Personifiquei nela mais uma vez minha salvação
das pessoas loucas deste vasto mundo cão.
Carlos Ant.
domingo, 1 de março de 2015
Comparações I
É como escrever na tentativa de se salvar. Todo escritor no fundo brinca de ser um pouco Deus. Não se sentem completo sendo apenas um humano com limitações comuns. Criam cidades, mundos, situações. Dão vida as pessoas, matam pessoas, criam suas regras e punem quem ele as faz desobedecerem. Escritor não sabe o que é livre arbítrio, controla toda sua trama com linhas finas de marionetes e quando cansado de tudo, costura um drama e mata todos. Escritor é fraco, frágil, covarde, porém, inteligente. Divorciar-se hoje de seu cônjuge, amanhã faz um livro colocando-a como personagem principal, fazendo com que todos a detestem, mata-a no fim. Briga com o chefe, e lá está ele, figurado e bem escondido com uma doença mortal sem cura em um novo livro. Demora meia hora na fila do banco, e a cidade maquiada com outro nome desaparece do mapa subitamente com uma bomba nuclear em sua cabeça para uma nova história. Escritor tem que se exilar no fundo de si para trazer à superfície o montante perfeito para o enredo. Poesia de quem sofre deveras dores é a poesia mais epifânica que há. O dom de escrever, é na verdade uma praga que pesa e perdura sobre as costas. Se não houvessem matado Jesus, ele teria escrito grande parte da bíblia, se é que ele não tenha dado seus palpites na construção. O que resta é tentar traduzir com palavras, o sentimento da ferida interna em carne viva que é dado para quem escreve. É como ser a solidão de um escritor, que na penumbra da noite, a única companhia que tem é o barulho da máquina de escrever e o cigarro quase ao fim.
Carlos Ant.
Carlos Ant.
Não fico mudo
Eu aprendi a falar o que me vem, não separo mais em ordem cronológica ou pondero o que é de utilidade ou não, simplesmente digo. As vezes me dizem que sou prolixo ou que meus argumentos não tem base e não passam de falácias, ou ainda me sugerem que leia "A arte de ter razão" de Arthur Schopenhauer. É como dívida mal paga, sabe? Guardar para si provoca aquela sensação de que deverá nos próximos meses separar uma quantia do árduo salário para destinar a uma conta infinita, e as prestações exponencialmente crescente faz você ser obrigado a remunerar, também, os juros que costumam ser, na maioria das vezes, maiores que o valor do débito inicial. É uma matemática não muito complexa, mas também, não muito lógica. Absterei de explicar matemática, dado que, não sou a pessoa mais indicada para isto. Carrego comigo a crença que quando deixamos de falar algo, o que não foi dito, ao longo prazo, somatiza-se em enfermidades. O peso do que não foi proferido valerá a gravidade da doença. Conheço pessoas que sofrem de pedras nos rins, fruto de palavras não ditas. Quanta coisa se engole a seco pensando na melhor maneira de falar algo que, só o que poderia valer como sensato seria a ideia de não pensar em nada para se expurgar. A vida é simples Antônio. Cabe a nós entender que devemos levar porrada o tempo inteiro, afinal, nenhuma pedra fica bem posicionada em um ladrilho, se não receber algumas porradas.
Vamos lá! No três todos bebendo a cachaça do copo, expondo suas feridas e cometendo haraquiri. Um, dois ... Droga! Queimei a largada. Não pude expor minhas mágoas nem anestesiar meu corpo com álcool. Me matei antes. Existem variações de hipóteses e estas por sua vez são louváveis. Entretanto, não cabe aqui mostrá-las. Talvez pelo medo inconsciente de expor feridas. Não faço o tipo de soldado orgulhoso que volta sorrindo da guerra, mutilado. Tenho que trabalhar minuciosamente meu parabolismo, distanciar personagens atribuindo características que não possuo, atitudes que nunca tomaria. Escrever se tornou uma forma de confidenciar meus ferimentos através do outro; através de pseudônimos e ficção kafkiana surreal, para disseminar uma frase ou outra que eu precisava dizer e não disse. Eu escrevo porque meu processo de pensar é lento, requer uma lapidação do que será dito. Sofro de Síndrome do delay; uma pessoa me joga uma pedra hoje e só depois de semanas sentirei a dor, então sento, e escrevo. O método que busco para responder ao ataque é este, depois de entender a dor do ataque, sento e escrevo.
É como quando se fuma o primeiro cigarro, apenas um, para experimentar. Ao tragar, sugamos a fumaça recém filtrada e esperamos, além de matar a ânsia da atitude, soprar junto a ela alguns demônios hospedeiros internos. Em vão é tal rés tentativa. O que causará nada além da tosse, do gosto de nicotina na saliva e o arrependimento de não ter fumado, em seguida, um segundo. A necessidade incessante de expurgar demônios que não saem é tolice. Coube a mim soprar essa fumaça das palavras bem posicionadas enquanto aceito que sou mesmo vil. Quem não é vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza, neste largo mundo? Ah, Fernando Pessoa, também estou farto de semideuses!
Carlos Ant.
Vamos lá! No três todos bebendo a cachaça do copo, expondo suas feridas e cometendo haraquiri. Um, dois ... Droga! Queimei a largada. Não pude expor minhas mágoas nem anestesiar meu corpo com álcool. Me matei antes. Existem variações de hipóteses e estas por sua vez são louváveis. Entretanto, não cabe aqui mostrá-las. Talvez pelo medo inconsciente de expor feridas. Não faço o tipo de soldado orgulhoso que volta sorrindo da guerra, mutilado. Tenho que trabalhar minuciosamente meu parabolismo, distanciar personagens atribuindo características que não possuo, atitudes que nunca tomaria. Escrever se tornou uma forma de confidenciar meus ferimentos através do outro; através de pseudônimos e ficção kafkiana surreal, para disseminar uma frase ou outra que eu precisava dizer e não disse. Eu escrevo porque meu processo de pensar é lento, requer uma lapidação do que será dito. Sofro de Síndrome do delay; uma pessoa me joga uma pedra hoje e só depois de semanas sentirei a dor, então sento, e escrevo. O método que busco para responder ao ataque é este, depois de entender a dor do ataque, sento e escrevo.
É como quando se fuma o primeiro cigarro, apenas um, para experimentar. Ao tragar, sugamos a fumaça recém filtrada e esperamos, além de matar a ânsia da atitude, soprar junto a ela alguns demônios hospedeiros internos. Em vão é tal rés tentativa. O que causará nada além da tosse, do gosto de nicotina na saliva e o arrependimento de não ter fumado, em seguida, um segundo. A necessidade incessante de expurgar demônios que não saem é tolice. Coube a mim soprar essa fumaça das palavras bem posicionadas enquanto aceito que sou mesmo vil. Quem não é vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza, neste largo mundo? Ah, Fernando Pessoa, também estou farto de semideuses!
Carlos Ant.
quinta-feira, 1 de janeiro de 2015
Fome de sede
num chove no sertão
já perdemo os gado
tamo perdeno as plantação
e os cachorro só os osso
nos olham com os ôlho
de remorso
a asa branca bateu asa
o carcará voou sem cantá
ficou a tamanha desgraça
daquilo que eu estou a falá
minha súplica num é auvida
e é bem certo que chuva num vem
a esperança todo dia um tiquim morre
abrino então a firida
dessa vida de trilho de trem
me de atenção um minuto,
peço a deus onde ele tivé
me mande ao meno uma gôta
só um poquim, uma bicota
pra mode eu fazê o café
eu ate tenho bastante fé
apesá de num parecê
criei minhas duas fia
as mocinha, cê pode vê
e os três cabôco tão na roça
de juelho no chão
pra mode chuvê
se achegue, veja aqui minha mão
olhe os calo da inxada, moço
olhe meu buxo, minhas custela
e o próximo almoço?
num tem nem previsão
e esse sol que parece um agôro
não tem pena de ninguem não
si é capais de rachá o côro
imagina o que faz no chão!
meu discanso é a rede
depois de um dia de cão
peço a deus que me mate a sede
e que caia a bendita chuva
nesse esquecido sertão.
Carlos A.
Prolixidades
Após ler inúmeros pensamentos existenciais chego a conclusão que é perturbador a condição posta de ser. Nego qualquer desejo involuntário, que irrefutavelmente possa a vir abalar meu novo estado de não-ser; para permanecer assim em minha nova posição posta por mim mesmo.
Seria tudo mais simples se não houvesse a necessidade de ter que ser, estimulado desde a infância para com os pupilos em formação de vida. A cobrança em estar sendo o que é, mesmo quando sem a mínima vontade, tira-me o sono. A recusa em ser trás consigo tantos outros levantamentos que acarretam assim em mais pensamentos, e que me causa ainda mais insônia.
Vivendo no modo Anti-ser: não se há identidade (sem nome, sem sexo, sem religião, e etc);
dispensa-se o tempo (acarretando na não necessidade de se ter uma idade, ou de viver baseado em horas/dias/meses/anos); a insignificância do espaço (logo, não se mora, não se veio ou vai para lugar algum).
Não ser está diretamente ligado a não ter - este ultimo nem sempre voltado à algo material. Não ser é não pensar segundo Descartes, o que coloca por terra a meu estado condicionado, pois enquanto decorro tais objeções estou pensando, e logo, sou/existo.
As contradições logo aparecem e a impossibilidade de não-ser vem com elas. Poderia o fato de ser ser a praga rogada em nossos antepassados comedores do fruto proibido? Onde após a descoberta da divindade maior sobre o acontecimento oriundo da desobediência acarretou na sabedoria; e com ela automaticamente na premência inegável de "tornar-se"? Seria o paraíso de todas as religiões simplesmente o fato de alcançar este estado de espirito¹? Será se essa busca efêmera não seria uma utopia surreal? Enquanto faço essas indagações pertinentes, já não demonstro visivelmente que fugi da minha exigência clara exposta na premissa deste raciocínio? Ao fim, concluo que tenho que continuar sendo. Afastemos então para o lado a pedra do "To be or not to be, that is the question" e contentemos com a resposta obvia.
1. De não ser.
Carlos A.
Seria tudo mais simples se não houvesse a necessidade de ter que ser, estimulado desde a infância para com os pupilos em formação de vida. A cobrança em estar sendo o que é, mesmo quando sem a mínima vontade, tira-me o sono. A recusa em ser trás consigo tantos outros levantamentos que acarretam assim em mais pensamentos, e que me causa ainda mais insônia.
Vivendo no modo Anti-ser: não se há identidade (sem nome, sem sexo, sem religião, e etc);
dispensa-se o tempo (acarretando na não necessidade de se ter uma idade, ou de viver baseado em horas/dias/meses/anos); a insignificância do espaço (logo, não se mora, não se veio ou vai para lugar algum).
Não ser está diretamente ligado a não ter - este ultimo nem sempre voltado à algo material. Não ser é não pensar segundo Descartes, o que coloca por terra a meu estado condicionado, pois enquanto decorro tais objeções estou pensando, e logo, sou/existo.
As contradições logo aparecem e a impossibilidade de não-ser vem com elas. Poderia o fato de ser ser a praga rogada em nossos antepassados comedores do fruto proibido? Onde após a descoberta da divindade maior sobre o acontecimento oriundo da desobediência acarretou na sabedoria; e com ela automaticamente na premência inegável de "tornar-se"? Seria o paraíso de todas as religiões simplesmente o fato de alcançar este estado de espirito¹? Será se essa busca efêmera não seria uma utopia surreal? Enquanto faço essas indagações pertinentes, já não demonstro visivelmente que fugi da minha exigência clara exposta na premissa deste raciocínio? Ao fim, concluo que tenho que continuar sendo. Afastemos então para o lado a pedra do "To be or not to be, that is the question" e contentemos com a resposta obvia.
1. De não ser.
Carlos A.
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