quinta-feira, 14 de maio de 2015

Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte I

A ultima vez que prometemos nos ver foi na madrugada de 1972. Dezenove de um julho chuvoso de 72. Lembro de ter feito, antes de pegar escondido a chave da lata velha de meu pai, um ritual: Entrei embaixo do chuveiro e senti escorrer sobre meu corpo ansioso e quente a água fria. Arrepiei-me com o choque térmico repentino, mas depois de alguns minutos também já estava frio, o que nesta noite me foi bastante proveitoso. Vesti minha velha jaqueta de couro que ela detestava por eu ter ganhado de uma antiga namorada no colegial, minha calça jeans surrada e o inseparável All Star preto de cano longo. É bem certo que não haveria de ser uma daquelas ocasiões extremamente especiais que os envolvidos são lembrados pelo cheiro que se exala; contudo, usei as ultimas gotas do perfume que ela me presenteou em meu aniversário do ano passado, e que só usava em dias especiais. O relógio em meu pulso marcava duas e trinta e quatro, o que significa que teria vinte e seis minutos para o encontro de adeus marcado às três - cujo me preparava desde às uma e cinquenta e sete - em sua casa. Repeti comigo a costumeira frase de proteção antes de sair "Livrai-me de todo mal, amém!" incessantes vezes; com o intuito do meu córtex pré-frontal receber a frase e converter em sensação de segurança para o meu corpo que tremia diante do desconhecido. Abri a porta de casa devagar com as chaves recém roubadas e com o mínimo de coragem que viria a crescer somente no meio do caminho, quando eu havia preparado todos os possíveis diálogos caso houvesse conflito verbal. Quando você se vê em uma situação onde o mal tem grande potencial de ser ascendente, não há outra coisa a fazer se não cortá-lo pela raiz; mesmo que ele esteja impregnado em uma profunda camada de seu coração. Vale lembrar que, independente da ruptura da Veia Cava ou da Artéria Aorta o resultado será o mesmo. Vale salientar aqui também que não se deve esquecer de esterilizar a navalha antes do procedimento.

Cheguei em sua casa sete minutos atrasado, três e sete. Pela primeira vez os sete minutos passaram-lhes despercebidos, o que eu estranhei por ela sempre ficar ensandecida com meus atrasos. Abriu a porta e me estendeu a mão antes que eu hesitasse lhe abraçar. A distância entre seu corpo e a mão com a palma aberta a riste para mim, me fez perceber o quanto somos patéticos em situações que nos obrigam a fingir que toda a situação não passa de uma grande patetice. Aquela mão que balancei com um sorriso sem graça e que delimitava a distância - que me mostrava pela linguagem do corpo que o corpo inteiro não me pertencia mais - não parecia a mesma que acariciava meus cabelos recém molhados do banho pós sexo. Estranhei sobretudo a posição dos móveis, a falta de alguns quadros e porta retratos vazios. Seus cabelos também estavam diferentes, com um corte mais moderno. Sua boca que se movia com falas rápidas parecia que ganharia vida a qualquer momento e se deslocaria; até imaginei seus lábios voando em direção aos meus. Depois de movimentos tão mecânicos quanto os primeiros atos de um recém ator formado no palco, frases prontas com textos ensaiados minuciosamente antes em frente ao espelho e retornar pela décima segunda vez ao silêncio vergonhoso de não ter o que dizer; resolvemos subir para o seu quarto.

Ao entrar, ela que me acompanhava, fechou a porta e as luzes. Abraçou minhas costas no escuro. Despiu-se do seu orgulho inicial mesmo que na penumbra e de seu vestido preto com pequenas pedras brilhantes. Através da pequena fresta que entrava pela janela, e que refratava um minúsculo fulgor, vi seus olhos que me encaravam e eu não os reconheci. Pareciam mais dissimulados que o habitual, oblíquos, mas como Bentinho, também não saberia seu significado. Meu pau logo enrijeceu com o beijo inesperado. Seu beijo não parecia o mesmo - pensei enquanto abria o zipper depois de já ter desabotoado a calça. Recebo um empurrão que também não espero e caio nu na cama que também me parecia ser mais macia. Ansiei em vão por uma chupada; para analisar se era reconhecível ou não passava de mais uma incoerência do que eu um dia imaginei ter certeza. Subiu em cima de mim encaixando sua pelve na minha, colocou com a mão esquerda através de suas costas o meu pau em sua boceta e cavalgou. Suas coxas friccionavam nas minhas e ela sorria - percebi por meus dedos estrem em sua boca - com o roçar de meus pelos em seu púbis pelado. Com a mão esquerda fechava meus olhos - como se pelo breu pudesse eu ver algo; e com a direita tocava seu sexo em movimentos fortes e delicados que fazia eu sentir no final do meu abdome, às vezes, seus dedos que fugiam no melado. Gemia em espasmos frequentes, pressionava-me com suas pernas, sugava, agarrava e mexia-se em meu pau. Eu segurava meu gozo tentando não pensar no que estava fazendo, ou no motivo daquilo tudo estar acontecendo. Até que seus movimentos foram ficando mais calmos, sua mão foi se esquecendo em minha barriga, a outra já escorregava de meus olhos para meu peito e senti ela inclinar-se em mim. Encostou seu rosto suado sobre meu pescoço recém enforcado e disse no meu ouvido com uma voz gemidamente rouca e terna que ainda me amava. Eu gozei, claro. Quem nunca gozou pelo ouvido não sabe o que é orgasmo.

(...)

Carlos A.

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