Vamos lá! No três todos bebendo a cachaça do copo, expondo suas feridas e cometendo haraquiri. Um, dois ... Droga! Queimei a largada. Não pude expor minhas mágoas nem anestesiar meu corpo com álcool. Me matei antes. Existem variações de hipóteses e estas por sua vez são louváveis. Entretanto, não cabe aqui mostrá-las. Talvez pelo medo inconsciente de expor feridas. Não faço o tipo de soldado orgulhoso que volta sorrindo da guerra, mutilado. Tenho que trabalhar minuciosamente meu parabolismo, distanciar personagens atribuindo características que não possuo, atitudes que nunca tomaria. Escrever se tornou uma forma de confidenciar meus ferimentos através do outro; através de pseudônimos e ficção kafkiana surreal, para disseminar uma frase ou outra que eu precisava dizer e não disse. Eu escrevo porque meu processo de pensar é lento, requer uma lapidação do que será dito. Sofro de Síndrome do delay; uma pessoa me joga uma pedra hoje e só depois de semanas sentirei a dor, então sento, e escrevo. O método que busco para responder ao ataque é este, depois de entender a dor do ataque, sento e escrevo.
É como quando se fuma o primeiro cigarro, apenas um, para experimentar. Ao tragar, sugamos a fumaça recém filtrada e esperamos, além de matar a ânsia da atitude, soprar junto a ela alguns demônios hospedeiros internos. Em vão é tal rés tentativa. O que causará nada além da tosse, do gosto de nicotina na saliva e o arrependimento de não ter fumado, em seguida, um segundo. A necessidade incessante de expurgar demônios que não saem é tolice. Coube a mim soprar essa fumaça das palavras bem posicionadas enquanto aceito que sou mesmo vil. Quem não é vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza, neste largo mundo? Ah, Fernando Pessoa, também estou farto de semideuses!
Carlos Ant.
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