domingo, 1 de março de 2015

Não fico mudo

Eu aprendi a falar o que me vem, não separo mais em ordem cronológica ou pondero o que é de utilidade ou não, simplesmente digo. As vezes me dizem que sou prolixo ou que meus argumentos não tem base e não passam de falácias, ou ainda me sugerem que leia "A arte de ter razão" de Arthur Schopenhauer. É como dívida mal paga, sabe? Guardar para si provoca aquela sensação de que deverá nos próximos meses separar uma quantia do árduo salário para destinar a uma conta infinita, e as prestações exponencialmente crescente faz você ser obrigado a remunerar, também, os juros que costumam ser, na maioria das vezes, maiores que o valor do débito inicial. É uma matemática não muito complexa, mas também, não muito lógica. Absterei de explicar matemática, dado que, não sou a pessoa mais indicada para isto. Carrego comigo a crença que quando deixamos de falar algo, o que não foi dito, ao longo prazo, somatiza-se em enfermidades. O peso do que não foi proferido valerá a gravidade da doença. Conheço pessoas que sofrem de pedras nos rins, fruto de palavras não ditas. Quanta coisa se engole a seco pensando na melhor maneira de falar algo que, só o que poderia valer como sensato seria a ideia de não pensar em nada para se expurgar. A vida é simples Antônio. Cabe a nós entender que devemos levar porrada o tempo inteiro, afinal, nenhuma pedra fica bem posicionada em um ladrilho, se não receber algumas porradas.

Vamos lá! No três todos bebendo a cachaça do copo, expondo suas feridas e cometendo haraquiri. Um, dois ... Droga! Queimei a largada. Não pude expor minhas mágoas nem anestesiar meu corpo com álcool. Me matei antes. Existem variações de hipóteses e estas por sua vez são louváveis. Entretanto, não cabe aqui mostrá-las. Talvez pelo medo inconsciente de expor feridas. Não faço o tipo de soldado orgulhoso que volta sorrindo da guerra, mutilado. Tenho que trabalhar minuciosamente meu parabolismo, distanciar personagens atribuindo características que não possuo, atitudes que nunca tomaria. Escrever se tornou uma forma de confidenciar meus ferimentos através do outro; através de pseudônimos e ficção kafkiana surreal, para disseminar uma frase ou outra que eu precisava dizer e não disse. Eu escrevo porque meu processo de pensar é lento, requer uma lapidação do que será dito. Sofro de Síndrome do delay; uma pessoa me joga uma pedra hoje e só depois de semanas sentirei a dor, então sento, e escrevo. O método que busco para responder ao ataque é este, depois de entender a dor do ataque, sento e escrevo.

É como quando se fuma o primeiro cigarro, apenas um, para experimentar. Ao tragar, sugamos a fumaça recém filtrada e esperamos, além de matar a ânsia da atitude, soprar junto a ela alguns demônios hospedeiros internos. Em vão é tal rés tentativa. O que causará nada além da tosse, do gosto de nicotina na saliva e o arrependimento de não ter fumado, em seguida, um segundo. A necessidade incessante de expurgar demônios que não saem é tolice. Coube a mim soprar essa fumaça das palavras bem posicionadas enquanto aceito que sou mesmo vil. Quem não é vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza, neste largo mundo? Ah, Fernando Pessoa, também estou farto de semideuses!


Carlos Ant.

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