quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Fome de sede

num chove no sertão
já perdemo os gado
tamo perdeno as plantação
e os cachorro só os osso
nos olham com os ôlho
de remorso

a asa branca bateu asa
o carcará voou sem cantá
ficou a tamanha desgraça
daquilo que eu estou a falá

minha súplica num é auvida
e é bem certo que chuva num vem
a esperança todo dia um tiquim morre
abrino então a firida
dessa vida de trilho de trem

me de atenção um minuto,
peço a deus onde ele tivé
me mande ao meno uma gôta
só um poquim, uma bicota
pra mode eu fazê o café

eu ate tenho bastante fé
apesá de num parecê
criei minhas duas fia
as mocinha, cê pode vê
e os três cabôco tão na roça
de juelho no chão
pra mode chuvê

se achegue, veja aqui minha mão
olhe os calo da inxada, moço
olhe meu buxo, minhas custela
e o próximo almoço?
num tem nem previsão

e esse sol que parece um agôro
não tem pena de ninguem não
si é capais de rachá o côro
imagina o que faz no chão!

meu discanso é a rede
depois de um dia de cão
peço a deus que me mate a sede
e que caia a bendita chuva
nesse esquecido sertão.

Carlos A.

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