É como escrever na tentativa de se salvar. Todo escritor no fundo brinca de ser um pouco Deus. Não se sentem completo sendo apenas um humano com limitações comuns. Criam cidades, mundos, situações. Dão vida as pessoas, matam pessoas, criam suas regras e punem quem ele as faz desobedecerem. Escritor não sabe o que é livre arbítrio, controla toda sua trama com linhas finas de marionetes e quando cansado de tudo, costura um drama e mata todos. Escritor é fraco, frágil, covarde, porém, inteligente. Divorciar-se hoje de seu cônjuge, amanhã faz um livro colocando-a como personagem principal, fazendo com que todos a detestem, mata-a no fim. Briga com o chefe, e lá está ele, figurado e bem escondido com uma doença mortal sem cura em um novo livro. Demora meia hora na fila do banco, e a cidade maquiada com outro nome desaparece do mapa subitamente com uma bomba nuclear em sua cabeça para uma nova história. Escritor tem que se exilar no fundo de si para trazer à superfície o montante perfeito para o enredo. Poesia de quem sofre deveras dores é a poesia mais epifânica que há. O dom de escrever, é na verdade uma praga que pesa e perdura sobre as costas. Se não houvessem matado Jesus, ele teria escrito grande parte da bíblia, se é que ele não tenha dado seus palpites na construção. O que resta é tentar traduzir com palavras, o sentimento da ferida interna em carne viva que é dado para quem escreve. É como ser a solidão de um escritor, que na penumbra da noite, a única companhia que tem é o barulho da máquina de escrever e o cigarro quase ao fim.
Carlos Ant.
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