segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Carta diária de superação do dia 22 de agosto

Sonhei contigo, usei a palavra sonho apesar de ter sido mesmo um pesadelo. Você vinha até a nossa casa com sua cara lavada cinicamente escupida por traços do mínimo de caráter. Parecia um pavão mostrando suas voluptuosas penas, andava exibindo o peito farto de ar, orgulhoso de se mostrar bem. Chamou meu nome e eu abri a porta, o que faria o mesmo fosse realidade. Deu-me um abraço apertado como se não houvesse saído de minha vida para morar com a garota, tornou-se de lado a mim e envolveu seu braço no meu lateralmente, fazendo com que ficássemos lado a lado e me impulsionou para que andássemos. 
O que eu gosto nos sonhos, é que podemos ver situações que não aconteceriam ou que aconteceriam de perspectiva diferente, como uma espécie de plano subjetivo de um ângulo privilegiado do sonhador, encarando a si mesmo como um telespectador que assiste tudo sem ter lido anteriormente a sinopse da situação. E eu estava lá, ao seu lado envolvida por seu braço esquerdo sobre minhas costas e sua mão descansando em meu quadril me puxando para o que viria a ser uma conversa. Visto em primeiro plano em plano-sequência. Sentou-me na cadeira da sala de jantar e começou um intenso interrogatório sobre minha vida , tentou sugar de mim todas as informações possíveis, e eu me vi ali sentada a sua frente mentindo para todas as perguntas. Quanta vontade eu tive como espectadora de tomar o meu lugar no sonho e dar-lhe um tapa e perguntar o motivo de ter me abandonado, o motivo de estar tão bem em cima do meu sofrimento, o motivo de não ter me dado motivo algum. Mas bons dramas são assim mesmo, sempre tem uma cena no meio do filme que nos faz sentimos vontade de encarnar o personagem na situação limite para fazer o que achamos que faríamos, transformando um "A Summer Story" de Piers Haggard em um "Kill Bill" de Tarantino. E fiquei encarando você ali, esperando que soltasse algum desejo em reatar o que tivemos, de viés, só perguntava e demonstrava subliminalmente o quão estava bem sem mim. 
Igual aqueles suspenses chatos, que enquanto você assiste a mocinha indefesa cantarolando no banho fica gritando que o vilão está logo atrás da cortina com uma faca, e que vai atacar-lhe por já começar aquela musica repetitiva e frenética, eu gritei para mim no sonho: "Ele não te ama mais! Vai te dar outra facada, não ouve a música?" Mas não me ouvi, e continuei cantarolando mentalmente que queria que você me desse algum sinal, de contrapartida, me sugeriu que continuássemos amigos. Provavelmente se mais pessoas estivessem na minha perspectiva assistindo meu sonho já imaginariam o que aconteceria. Por que diabos mocinhas tem que serem tão tolas? Talvez preencham folhas de currículos com situações de incapacidade de autossuficiência para serem contratadas como uma boa atriz. 
Você foi embora mais uma vez sem me permitir uma resposta plausível da situação, enfincando ainda mais a faca anteriormente cravada enquanto realidade. Não entendo porque não conseguimos acordar quando o sonho se torna um pesadelo, deveríamos ter uma mandala interna. Ficou mais uma vez teu cheiro impregnado na casa, depois que o drama tornou-se terror consegui despertar e senti-lo como se deveras estivesse passado por aqui. Esse é o único problema de perfumes, quando você vai teu cheiro fica. 
Parece que estou em uma espécie de jogo de casas de tabuleiro, quando pareço estar caminhando bem, pegando cartas que me levam para frente, ganhando bônus, conseguindo viver, me deparo com alguma discrepância que me remeta a você, o que me faz retroceder algumas casas. A unica coisa que queria mesmo era não ter cruzado em tua vida, se soubesse que o fim seria tão árduo assim, não teria aceitado entrar no jogo com você.

Lourdes.

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