quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Carta de superação do dia --

Sentei no sofá com uma xícara de chá e um pouco de melancolia. No fim da tarde os últimos raios de sol que se alastram sem pressa pelos cantos da casa fazem as sombras dos móveis ficarem maior, bebo um gole e vejo na parede a refração retalhada da luz colorida do vitral da janela. Os fios alaranjados que atravessam a parte inferior da porta tomam o chão um aspecto triste, e eu só espero a claridade laranja ser interrompida por tuas pernas, ver a silhueta contraluz de teus pés fazendo longas falhas de sombra no chão da sala. Bebo mais um gole, me interrogo sobre o que faria se você viesse arrependido e pedindo para voltar, não me respondo por não me ter respostas, acho que a verdade é que não existe verdade alguma.
As dores do mundo já não tem importância, a fome das crianças da África, os intocáveis Dálits da Índia, os mortos da guerra no Oriente Médio, os reprimidos sobre ditadura da Coréia do Norte parecem ser bobagem perto do que eu sinto agora, essa descrença em mim. Bebo mais um gole do chá já frio e clamo para que caia um dilúvio, entretanto, menos escatológico e mais libertador para lavar as ruas, as avenidas, os tetos das casas, as almas dos que correm da chuva, eu não correria, pelo contrário abriria-me para ser inundada.
Sentimento já não tenho, sinto-me anestesiada, como se o liquido anestésico aplicado em mim errou o caminho e se perdeu, causando essa letargia irreversível. De fato queria sentir algo além da descrença e da desesperança que me acompanham como um encosto. Escrevo-te meu amor, pois já anoiteceu, e não olho mais a porta, já não espero mais. Escrevo-te meu amor, pois se olhasse em teus olhos não te falaria o que te escrevo, por insegurança, ou pela interrupção que você faria em cada frase minha. Te escrevo nem eu sei porque, mas te escrevo, e nem tenho necessidade que leia tudo isso, passei da fase de te escrever achando que um dia sentirá remorso de ter ido sem responder minhas indagações. Mas continuo a te escrever.

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