Aos poucos Cipriano foi crescendo e conhecendo o sentido e o significado de tudo, sua madrinha havia de ter lhe dado boa educação, era um jovem conhecedor de arte e de culturas de diferentes países, sabia se portar quando em público, tinha boa sociabilidade, gastava boa parte de seu tempo livre à leitura de bons livros e fazia anotações sempre que possível. Tanto que quando surgia a pergunta dos familiares ilegítimos - que tinha por eles tanto sentimento quanto como se fossem parentescos de primeiros graus - o que viria a ser quando se tivesse a idade para tomar uma função para si, esperavam sempre uma resposta mais consistente, acreditando que o jovem mudaria de ideia sempre que indagado, como médico ou professor por exemplo. Pois respondia sem vacilar: "Escritor" completava ainda: "Quero ser um famoso escritor". Desiludia a família toda com sua réplica, apesar de não ser tão notório assim tal fato. Cipriano desenvolveu-se como toda criança em condições normais, mesmo que com algumas dificuldades. Sua madrinha que a chamava desde quando aprendeu a falar- que inclusive fora sua primeira palavra compreensível - de Ana, apesar de seu nome ser Joana, sempre fizera de tudo para pagar boa escola, comprar boas vestes, livros, mesmo que isso custasse a ela, uma privação de pequenos luxos para si. Antônio carregava no braço um terço da medalha milagrosa como uma forma de manter o único contato de sua mãe consigo, ou como um amuleto que acreditava lhe trazer boa sorte.
Quando completou dezesseis anos, foi chamado em seu quarto por Joana para uma conversa, que ela havia adiado a anos por não saber como elucidar de uma melhor maneira possível. Antes, ela acende um cigarro e traga, tira-o da boca. Olha para o cigarro agora como quem olhasse para uma ampulheta, deixa a nicotina queimar lentamente. Sopra a fumaça e a acha incrivelmente desafiadora agora e queria que a névoa maldita saísse de seu interior com as palavras exatas; que fizesse audível ao pobre rapaz sem que ela precisasse falar nada. Respira fundo e aceita que ela tem que assumir o papel incumbido a ela, promete em seu pensamento que o tempo da espera será marcado pela queima do cigarro, que não tem pressa na combustão. Fato que deixa Cipriano apreensivo, por ver Ana fumando conclui que ela está nervosa, e conclui certo. Ana está frenética e corta o silêncio angustiante pouco antes do cigarro entrar totalmente em combustão:
- Preciso falar uma coisa séria a você, já deveria ter contado antes, mas não sabia como lhe falar - o que é verdade - e estou fumando esse cigarro, não porque eu esteja agitada ou coisa parecida, é por conta do frio que está fazendo hoje - o que é mentira.
- Ana, você sabe que sempre pôde falar o que quisesse comigo, tenho-lhe como minha mãe, isso é imutável. Disse ele em resposta tentando passar uma tranquilidade que ele não tinha naquele momento.
- Querido - despensa sobre a janela a bituca inútil e volta-se a ele - você ainda é muito novo, as pessoas não são tão boas quanto aparentam ser, e o meu maior medo é de lhe perder! - balbuciou ela.
- Pois de antemão fique sabendo que nada que você fez ou fizer me fará mudar de ideia, sei o quanto as pessoas são repugnantes e o que elas são capazes de fazer para conseguir seu objetivo, ao contrário, existem pessoas que são exemplo da existência Deus - disse com um sorriso no rosto fraterno, dando a entender que era dela que ele falava.
- Se você soubesse exatamente o que as pessoas fazem para conseguirem o que querem você sentiria nojo. Chamei você aqui para lhe dizer isto: Não acredite em ninguém, não crie expectativas sobre ninguém! - falou séria lançando um olhar de soslaio ao jovem enquanto se virava de costas - Nem mesmo em mim - finalizou com um suspiro rápido.
- Ana, não estou entendendo o que você quer dizer com isso! Está me deixando nervoso.
- Sua mãe não morreu no parto, eu tirei você dela. Além de você agora, ninguém sabe disso - virou para ele com os olhos cheios de lágrimas e arrependida.
(...)
Carlos Ant.