sexta-feira, 20 de março de 2015

trabalho noturno

em meio às caixas
sobre o calor noturno
trabalho árduo
baixas 
tamanho horror

já são quase cinco
as horas dormem
o sol se perdeu
a fome me toma
sem pudor

o salário
não compra
mas paga
me leva
aos poucos
de dor

o braço é forte
mas só o braço
não merece
valor

sorria para o chefe
põe ponto final
guarda o papel
a poesia acabou.

Carlos Ant.

e no fim,
assim meio calado
talvez eu olhe pro lado
e engula meu sim

tão seco e amargo
quanto o canto
de um querubim

ou até mesmo
não pronuncie
nenhum vocábulo

atirar a esmo
estafar o marasmo.

Carlos Ant.

Cipriano

Aos poucos Cipriano foi crescendo e conhecendo o sentido e o significado de tudo, sua madrinha havia de ter lhe dado boa educação, era um jovem conhecedor de arte e de culturas de diferentes países, sabia se portar quando em público, tinha boa sociabilidade, gastava boa parte de seu tempo livre à leitura de bons livros e fazia anotações sempre que possível. Tanto que quando surgia a pergunta dos familiares ilegítimos - que tinha por eles tanto sentimento quanto como se fossem parentescos de primeiros graus - o que viria a ser quando se tivesse a idade para tomar uma função para si, esperavam sempre uma resposta mais consistente, acreditando que o jovem mudaria de ideia sempre que indagado, como médico ou professor por exemplo. Pois respondia sem vacilar: "Escritor" completava ainda: "Quero ser um famoso escritor". Desiludia a família toda com sua réplica, apesar de não ser tão notório assim tal fato. Cipriano desenvolveu-se como toda criança em condições normais, mesmo que com algumas dificuldades. Sua madrinha que a chamava desde quando aprendeu a falar- que inclusive fora sua primeira palavra compreensível - de Ana, apesar de seu nome ser Joana, sempre fizera de tudo para pagar boa escola, comprar boas vestes, livros, mesmo que isso custasse a ela, uma privação de pequenos luxos para si. Antônio carregava no braço um terço da medalha milagrosa como uma forma de manter o único contato de sua mãe consigo, ou como um amuleto que acreditava lhe trazer boa sorte.
Quando completou dezesseis anos,  foi chamado em seu quarto por Joana para uma conversa, que ela havia adiado a anos por não saber como elucidar de uma melhor maneira possível. Antes, ela acende um cigarro e traga, tira-o da boca. Olha para o cigarro agora como quem olhasse para uma ampulheta, deixa a nicotina queimar lentamente. Sopra a fumaça e a acha incrivelmente desafiadora agora e queria que a névoa maldita saísse de seu interior com as palavras exatas; que fizesse audível ao pobre rapaz sem que ela precisasse falar nada. Respira fundo e aceita que ela tem que assumir o papel incumbido a ela, promete em seu pensamento que o tempo da espera será marcado pela queima do cigarro, que não tem pressa na combustão. Fato que deixa Cipriano apreensivo, por ver Ana fumando conclui que ela está nervosa, e conclui certo. Ana está frenética e corta o silêncio angustiante pouco antes do cigarro entrar totalmente em combustão:
 - Preciso falar uma coisa séria a você, já deveria ter contado antes, mas não sabia como lhe falar - o que é verdade - e estou fumando esse cigarro, não porque eu esteja agitada ou coisa parecida, é por conta do frio que está fazendo hoje - o que é mentira.
 - Ana, você sabe que sempre pôde falar o que quisesse comigo, tenho-lhe como minha mãe, isso é imutável. Disse ele em resposta tentando passar uma tranquilidade que ele não tinha naquele momento.
 - Querido - despensa sobre a janela a bituca inútil e volta-se a ele - você ainda é muito novo, as pessoas não são tão boas quanto aparentam ser, e o meu maior medo é de lhe perder! - balbuciou ela.
 - Pois de antemão fique sabendo que nada que você fez ou fizer me fará mudar de ideia, sei o quanto as pessoas são repugnantes e o que elas são capazes de fazer para conseguir seu objetivo, ao contrário, existem pessoas que são exemplo da existência Deus - disse com um sorriso no rosto fraterno, dando a entender que era dela que ele falava.
- Se você soubesse exatamente o que as pessoas fazem para conseguirem o que querem você sentiria nojo. Chamei você aqui para lhe dizer isto: Não acredite em ninguém, não crie expectativas sobre ninguém! - falou séria lançando um olhar de soslaio ao jovem enquanto se virava de costas - Nem mesmo em mim - finalizou com um suspiro rápido.
- Ana, não estou entendendo o que você quer dizer com isso! Está me deixando nervoso.
- Sua mãe não morreu no parto, eu tirei você dela. Além de você agora, ninguém sabe disso - virou para ele com os olhos cheios de lágrimas e arrependida.

(...)

Carlos Ant.

Epístola


Enfeita meu colo o colar de uma tênue corda alaranjada, uma gravata que guarnece e maquila meu total desespero. Sobre a cadeira, em pé, me sinto mais alta e mais eminente, quase narcisista, quase megalomaníaca. Borro meu batom com o rosto de minha mão suada e sinto o vermelho-gosto-sangue sucumbir em minha boca seca. O resto que faço não cobre o drama. Uso meu melhor vestido modelado especialmente para meu corpo e para esta data especial. É especial para mim. O salto preto e de maior tamanho que tenho, as vezes, faz eu adiantar uma possível queda não ensaiada, e quase tropeço. Acho poético o cordão que abraça meu pescoço, lembrando freudicamente o cordão que ligava-me a minha mãe, este segundo pelo umbigo, quando vim ao mundo. Poderia usar a arma que descansa em minha gaveta, guardada para uma dessas ocasiões cujo brincar de ser poeta não me salva mais, mas não posso sujar o tapete de sangue. Ou até mesmo uma faca, que por um descuido gramatical não se tornou um verbo de ação e poderia me custar uma orelha, ou duas, ou três, mas não posso sujar meu tapete de sangue.

Meus pensamentos fluem com naturalidade e lucidez. Seguro a caneta e rabisco tudo o que irá ocorrer, como uma visão de um futuro próximo neste papel em uma imagem digna de abertura de algum filme - dez segundos com a câmera parada em um plano americano e aproximando-se para um plano fechado a se perder em meus olhos de desespero em um plano detalhe - para depois do corte abrupto e dois segundos de tela preta, em plano sequência, explicar o motivo de tudo. Já a cena final é a mesma, porém, desta vez estou a ler o rascunho, ao fundo, um piano triste me acompanha - a câmera faz o revés, saindo do plano detalhe em meus lábios, que pronunciam as ultimas palavras enquanto viva, para o plano médio. A câmera estaciona calmamente ali, em minha frente. Acabo a leitura. Olho para você através da lente, que espera aflito le grand finale. Movimento levemente as articulações do meu joelho para frente. Pode-se observar meu pé direito a convulsionar com o frio instantâneo e inexplicável. E, neste momento o que move é apenas meu pé direito posto à riste. Fecho meus olhos. O piano silencia gradualmente. A expectativa do que se seguirá cresce e eu não penso mais em nada. Aos que leem, arrastam os olhos rápidos à espera da frase exata que se encaixará perfeitamente na suposição já anunciada. Aos que assistem, roem as unhas em um ato ansioso e mecânico. A mim, canto mentalmente uma canção de ninar que não tenho certeza se uma das primeiras que ouvi em vida. "Nan, nan, nan, nan, dorme filhinha, do meu coração, deite o seu sono, sobre esta canção". Em um impulso, jogo meu corpo para frente enquanto com a perna cujo me apoiava empurra a cadeira que cai. Eu escorrego no vazio que ficou entre a cadeira e o chão até ser agarrada pelo pescoço. Estou suspensa agora e abraçada. Sinto um aperto em todo o corpo, que me comprime em um estado de felicidade e acefalia. Me debato, não por arrependimento, mas para tornar a cena mais emocionante e visceral. Premência de me salvar não havia, mas me salvei. Depois de dois minutos de agitação cenográfica acompanhada novamente pelo som do piano - desta vez mais acelerado e grave - cedo à morte e aceito minha escolha. O filme vai escurecendo gradualmente sobre minha imagem intacta em um fade out até não se ver mais nada além da ultima frase que antecederia o "Fim", "Agora descanso de meus pensamentos mais sórdidos sobre meus pensamentos que nunca tive respostas".

terça-feira, 17 de março de 2015

Fumo um cigarro
Fodo uma puta
vou à labuta
apago o cigarro na puta

Apago na labuta meu chefe
Fujo de casa com outra puta
para um mundo roto
já não me sinto morto


Carlos Ant.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Amor platônico

É aquele ônibus? Lá vem ele. Droga tá chovendo! Mas pode continuar, precisamos de chuva. Não precisa empurrar. Este ônibus vai para o bairro Sinhá Sabóia? Não?! Beleza então. Merda! Detesto esperar. Pelo menos aqui embaixo não pego chuva. Lá vem o outro ônibus. Acho que é o que tenho que pegar. Quanto é a passagem? 1,70? Lembro que a ultima vez era 1,50. Onde sento? Ali! Na janela da cadeira mais alta. Vou colocar minha pasta aqui para ninguém sentar ao meu lado, afinal, o ônibus tá vazio e há tantas outras possibilidades de assentos. É interessante o modo como a água jorra quando a roda passa sobre uma poça, mas não é interessante o modo como a água jorra quando a roda passa sobre uma poça e há uma pessoa próxima. Coitada da senhora. Essa parada costuma entrar muita gente, vou tirar minha pasta, não sou egoísta. Mas espero que ninguém sente ao meu lado. Fazendo um calculo rápido, tem mais bancos que pessoas. É, acho que ninguém sentará do meu lado. Poxa, por que ninguém senta do meu lado? Ela ali que ainda está na catraca poderia sentar do meu lado, mas há uma vaga ali no meio. Opa, ela passou da vaga. Ela vai sentar aqui comigo. O que ela olha na bolsa que não senta logo? Fechou a bolsa, sentou. Ufa. Respira ela em tom de desconformidade colocando o guarda chuva em sua frente. Ela se molhou também. O que faço? É... Vou tentar demonstrar que não tô apaixonado por ela. Por que diabos eu me apaixono tão rápido? Vou esperar ela virar para olhar para ela. É, ela é bonita. Opa, opa, sinal alerta, está mexendo no cabelo. Encostou de leve seu cotovelo em minha barriga enquanto abria a bolsa para pegar... Pegar o que que tanto mexe? Ah, um livro. Qual será o título. Nesse meu ângulo de visão lateral não se dá pra ver muita coisa. Também não quero parecer muito insolente. Tirou a caneta que marcava o livro. Sinal alerta de novo, mexeu no cabelo. Encostou de novo o cotovelo em minha barriga. Certo, agora é o celular. Fones? Droga, agora ela ficará incomunicável caso eu crie coragem para puxar assunto. O que será que ela tá ouvindo? Já sei! Vou colocar meu corpo contra o dela levemente quando o ônibus virar aquela rua, afinal de contas, a inércia foi feita justamente para isso, unir casais em curvas de coletivos. Deu certo. Será se ela percebeu? Acho que não. Deveria ser mais agressivo, mas tô sem cueca e isso pode ser arriscado demais - se é que alguém me entende. Qual será sua parada? Já sei, vou perguntar as horas. Oi, que horas são? Me mostrou as horas no celular e não tirou os fones, significa que não tá afim. Obrigado! Disponha. Espera, aquilo foi um sorriso? Que voz bonita. Preciso escrever o que eu tô pensando. Preciso dizer que tô apaixonado. Assim mesmo, com muito ponto final e sem muitos detalhes. Só meus pensamentos e frases ditas. Curtas. Vou escrever quando chegar em casa. Me apaixonei por uma linda menina que sentou ao meu lado no ônibus. Mas preciso saber seu nome, de onde ela é. Mexeu no cabelo de novo. O fone não estão mais em seus ouvidos. Certo muchacho, essa é a hora de iniciar um diálogo mais consistente. Que música você está ouvindo? Desculpa, sou curioso. Ela riu. Percebi. Me deu um fone. Pensei milésimos de segundos antes de colocá-los: Se for Chico Buarque eu peço ela em casamento agora mesmo. Não era. Não casei. É uma boa musica para se ouvir em ônibus esta. Voltou para o início da música. "Pela janela eu vejo..." é verdade, é uma boa música para se ouvir ônibus. Você vai descer onde? A pergunta que eu deveria ter feito, ela fez. Na penúltima parada e você? Na ultima. Eu também, coincidência. Mora por aqui mesmo? Não, moro do outro lado da cidade, vim visitar minha prima e é a primeira vez que venho neste ônibus. Tem Facebook? Não. Certo, ela não tem Facebook, significa que ela não quer contato após chegar ao nosso destino. Mas tenho Whatsapp. Retiro o que pensei. Poderia me passar? Sim, claro. Bolso, outro bolso. Pensei: Porra, esqueci a merda do meu celular em casa. Disse: Esqueci em casa, você poderia anotar? Isso, essa é a deixa para ela abrir a bolsa e eu perguntar qual livro ela está lendo. Zipper. Qual livro você está lendo? Ah, é este que peguei na biblioteca da faculdade que tentarei entrar este ano. Quantos anos você tem? 17. Dois anos mais nova que eu. Interessante... Colocou o guarda chuva um pouco de lado e anotou em um papel apoiando-o  nas costas do banco da frente, o que fez, com o movimento, sair o primeiro número um tanto quanto torto. É um nove? Risos. Sim é um nove. Risos. Resolveu apoiar em suas coxas. Anotou e colocou seu nome. Kecya. Como é seu nome? Carlos. Kecya, Carlos.

Kecya...

Carlos Ant.

terça-feira, 3 de março de 2015

perspectiva

Os dias voltaram a ter uma grande significância para mim,
e eu já começo a achar engraçado como as coisas se deram no fim

Meu inferno astral acabou exatamente quando eu comecei a achar que seria eterno
E o caos que estava plantado em minha vida já começa a tornar-se mais terno

O sonho da viagem para o país vizinho, a esperança da faculdade esquecida
A mudança de perspectiva e a espera da felicidade um dia pra mim prometida

Não penso mais no arsênico, chumbo ou gás de cozinha
arma, bala, corda ou falta de esperança na vida que não tinha

Personifiquei nela mais uma vez minha salvação
das pessoas loucas deste vasto mundo cão.

Carlos Ant.

domingo, 1 de março de 2015

Comparações I

É como escrever na tentativa de se salvar. Todo escritor no fundo brinca de ser um pouco Deus. Não se sentem completo sendo apenas um humano com limitações comuns. Criam cidades, mundos, situações. Dão vida as pessoas, matam pessoas, criam suas regras e punem quem ele as faz desobedecerem. Escritor não sabe o que é livre arbítrio, controla toda sua trama com linhas finas de marionetes e quando cansado de tudo, costura um drama e mata todos. Escritor é fraco, frágil, covarde, porém, inteligente. Divorciar-se hoje de seu cônjuge, amanhã faz um livro colocando-a como personagem principal, fazendo com que todos a detestem, mata-a no fim. Briga com o chefe, e lá está ele, figurado e bem escondido com uma doença mortal sem cura em um novo livro. Demora meia hora na fila do banco, e a cidade maquiada com outro nome desaparece do mapa subitamente com uma bomba nuclear em sua cabeça para uma nova história. Escritor tem que se exilar no fundo de si para trazer à superfície o montante perfeito para o enredo. Poesia de quem sofre deveras dores é a poesia mais epifânica que há. O dom de escrever, é na verdade uma praga que pesa e perdura sobre as costas. Se não houvessem matado Jesus, ele teria escrito grande parte da bíblia, se é que ele não tenha dado seus palpites na construção. O que resta é tentar traduzir com palavras, o sentimento da ferida interna em carne viva que é dado para quem escreve. É como ser a solidão de um escritor, que na penumbra da noite, a única companhia que tem é o barulho da máquina de escrever e o cigarro quase ao fim.

Carlos Ant.

Não fico mudo

Eu aprendi a falar o que me vem, não separo mais em ordem cronológica ou pondero o que é de utilidade ou não, simplesmente digo. As vezes me dizem que sou prolixo ou que meus argumentos não tem base e não passam de falácias, ou ainda me sugerem que leia "A arte de ter razão" de Arthur Schopenhauer. É como dívida mal paga, sabe? Guardar para si provoca aquela sensação de que deverá nos próximos meses separar uma quantia do árduo salário para destinar a uma conta infinita, e as prestações exponencialmente crescente faz você ser obrigado a remunerar, também, os juros que costumam ser, na maioria das vezes, maiores que o valor do débito inicial. É uma matemática não muito complexa, mas também, não muito lógica. Absterei de explicar matemática, dado que, não sou a pessoa mais indicada para isto. Carrego comigo a crença que quando deixamos de falar algo, o que não foi dito, ao longo prazo, somatiza-se em enfermidades. O peso do que não foi proferido valerá a gravidade da doença. Conheço pessoas que sofrem de pedras nos rins, fruto de palavras não ditas. Quanta coisa se engole a seco pensando na melhor maneira de falar algo que, só o que poderia valer como sensato seria a ideia de não pensar em nada para se expurgar. A vida é simples Antônio. Cabe a nós entender que devemos levar porrada o tempo inteiro, afinal, nenhuma pedra fica bem posicionada em um ladrilho, se não receber algumas porradas.

Vamos lá! No três todos bebendo a cachaça do copo, expondo suas feridas e cometendo haraquiri. Um, dois ... Droga! Queimei a largada. Não pude expor minhas mágoas nem anestesiar meu corpo com álcool. Me matei antes. Existem variações de hipóteses e estas por sua vez são louváveis. Entretanto, não cabe aqui mostrá-las. Talvez pelo medo inconsciente de expor feridas. Não faço o tipo de soldado orgulhoso que volta sorrindo da guerra, mutilado. Tenho que trabalhar minuciosamente meu parabolismo, distanciar personagens atribuindo características que não possuo, atitudes que nunca tomaria. Escrever se tornou uma forma de confidenciar meus ferimentos através do outro; através de pseudônimos e ficção kafkiana surreal, para disseminar uma frase ou outra que eu precisava dizer e não disse. Eu escrevo porque meu processo de pensar é lento, requer uma lapidação do que será dito. Sofro de Síndrome do delay; uma pessoa me joga uma pedra hoje e só depois de semanas sentirei a dor, então sento, e escrevo. O método que busco para responder ao ataque é este, depois de entender a dor do ataque, sento e escrevo.

É como quando se fuma o primeiro cigarro, apenas um, para experimentar. Ao tragar, sugamos a fumaça recém filtrada e esperamos, além de matar a ânsia da atitude, soprar junto a ela alguns demônios hospedeiros internos. Em vão é tal rés tentativa. O que causará nada além da tosse, do gosto de nicotina na saliva e o arrependimento de não ter fumado, em seguida, um segundo. A necessidade incessante de expurgar demônios que não saem é tolice. Coube a mim soprar essa fumaça das palavras bem posicionadas enquanto aceito que sou mesmo vil. Quem não é vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza, neste largo mundo? Ah, Fernando Pessoa, também estou farto de semideuses!


Carlos Ant.