quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mar nu

despe-se à noite, ela, de toda sua vaidade
tira em peça por peça, um pouco de sua coragem
o mar à sua frente espera o contato
para envolver-lhe depois de dias fartos

nua, ela caminha em direção a ele, atenta
se alguém a visse ali, do modo, berraria: Sedenta!
ele, resplandece de felicidade, ansioso
joga seus braços molhados, puxando-a, sinuoso

entra no mar nu, sem pudor algum
e o mar aos poucos mata seu jejum
banha lancinante, cachonda
sente entre suas pernas a forte onda

o contato fez o mar espumar de satisfação
e do prazer ofegante a calma respiração
da exasperação fez-se o terno
e a lua testemunhou um amor eterno.

Carlos Ant.

Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte II

CONTINUAÇÃO DO TEXTO "Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte I"

(...)

Fiquei ali deitado olhando para o teto entorno da escuridão por mais alguns minutos. Pasmo, descompassado, sentindo o sangue correr por minhas veias dilatadas e com o músculo já flácido e melado. Não pensei mais em nada a não ser o motivo pelo qual ela me chamou para aquilo e porque não estava abraçada comigo como fazia antes; mas a verdade, é que eu, pela primeira vez, estava satisfeito demais para me preocupar com ela, deixei de lado meu ego-altruísta para descansar sobre o meu gozo. E é sempre de lei depois de uma foda, bater aquela vontade de mijar. Sai do quarto enquanto ela estava lá, como sempre, em seu egoismo curtindo o próprio gozo. Acho que nem viu quando eu vesti minha calça colocando a cueca em meu bolso e saindo do quarto com a jaqueta em meu ombro, ou melhor, prefiro acreditar que não viu. Ao sair do banheiro, resolvi sair de sua casa também, assim como ela saiu da minha vida. Sem respostas e sem beijo na testa.

Cheguei em casa e capotei em minha cama, porque, é sempre de lei depois de uma foda, sentir uma puta vontade de dormir. Acordei e quase perdi a hora do trabalho, fiz cocô, tomei um banho rápido e me vestir enquanto corria em direção a garagem para me locomover a labuta.

Acordei tão atrasado que já não adiantava correr para ir ao trabalho. Me levantei, cocei minha barba e senti o cheiro de sua boceta impregnado em meus pelos, que ao friccionar com minhas unhas, exalou o ultimo momento que ela foi minha de verdade. Me direcionei ao banheiro para mijar e ao tirar meu pau para fora, senti ainda o cheiro de seu ultimo orgasmo misturado com o meu, e minha urina batizando de dourado o ato escatológico nada pudico. Enrijeci instantaneamente em lembrar dela aberta, entregue para mim. Na madrugada de vinte e cinco de julho de 72, onde marcamos para ser a nossa ultima noite e prometemos nunca mais nos ver.

Cheguei em sua casa, não para conversar, mas para fodê-la, e ela, para se aproveitar disto. Fazendo eu acreditar que eu era seu único homem, como quem me pedisse perdão pela como agiu comigo me cedendo seu cio. Me permitiu ela, na noite passada fazer o que eu bem quisesse com seu corpo. E eu acreditei que eu era seu único homem. Nunca havia fodido sem sentimento algum, sem me preocupar com a parceira, sem querer beijar a boca. Inclusive, já havia de ter posto mais sentimento em simples cumprimento matinal em uma segunda-feira chuvosa do que naquela noite. O modo como ela se contorcia para me satisfazer, de quatro, me oferecendo seu cu, suas pregas, seu ato mais depravado, devasso, pervertido. Me senti como se houvessem me entrego um Oscar. Me perdi em meio ao prato suculento e farto, exposto para meu desjejum, me perdi na linha tênue que ligava seu cu e sua boceta. O gemido que ela fez em discrepância sonora com sua respiração, a quem ouvisse, imaginaria um ataque histérico. Eu imaginava a minha satisfação, um nível abaixo do nirvana. Sexo tântrico nunca foi meu forte, mas estava disposto a passar a noite inteira entrando e saindo dela. Ela, nesta noite, não me enforcou, não tapou meus olhos, não apagou a luz, ao contrário, me mostrava sua nudez e seu líquido que babava todo meu pau; lambia seus seios, apertava-os, me oferecia para partilhar daquele gesto sadomasoquista, e eu, enchia minha mão em suas nádegas já marcadas com meus dedos em vermelho enquanto puxava seu cabelo. Pirei ao ouvir ela me xingar, ordenando que a atravessasse, parecíamos uma máquina. Ela deitada na cama de frente a mim e eu em pé em sua frente. No apogeu da foda já lancinante - por segurarmos os dois o gozo - ela se entrega e lança um grito estremecedor que me fez esporrar tudo dentro dela. Inclinei meu corpo e a abracei. Senti sair a ultima gota quando em seu ouvido, ainda ofegante, disse que ainda a amava.

(...)

Carlos Ant.

Ricardo e seus problemas do mundo adulto (+18) - Parte I

A ultima vez que prometemos nos ver foi na madrugada de 1972. Dezenove de um julho chuvoso de 72. Lembro de ter feito, antes de pegar escondido a chave da lata velha de meu pai, um ritual: Entrei embaixo do chuveiro e senti escorrer sobre meu corpo ansioso e quente a água fria. Arrepiei-me com o choque térmico repentino, mas depois de alguns minutos também já estava frio, o que nesta noite me foi bastante proveitoso. Vesti minha velha jaqueta de couro que ela detestava por eu ter ganhado de uma antiga namorada no colegial, minha calça jeans surrada e o inseparável All Star preto de cano longo. É bem certo que não haveria de ser uma daquelas ocasiões extremamente especiais que os envolvidos são lembrados pelo cheiro que se exala; contudo, usei as ultimas gotas do perfume que ela me presenteou em meu aniversário do ano passado, e que só usava em dias especiais. O relógio em meu pulso marcava duas e trinta e quatro, o que significa que teria vinte e seis minutos para o encontro de adeus marcado às três - cujo me preparava desde às uma e cinquenta e sete - em sua casa. Repeti comigo a costumeira frase de proteção antes de sair "Livrai-me de todo mal, amém!" incessantes vezes; com o intuito do meu córtex pré-frontal receber a frase e converter em sensação de segurança para o meu corpo que tremia diante do desconhecido. Abri a porta de casa devagar com as chaves recém roubadas e com o mínimo de coragem que viria a crescer somente no meio do caminho, quando eu havia preparado todos os possíveis diálogos caso houvesse conflito verbal. Quando você se vê em uma situação onde o mal tem grande potencial de ser ascendente, não há outra coisa a fazer se não cortá-lo pela raiz; mesmo que ele esteja impregnado em uma profunda camada de seu coração. Vale lembrar que, independente da ruptura da Veia Cava ou da Artéria Aorta o resultado será o mesmo. Vale salientar aqui também que não se deve esquecer de esterilizar a navalha antes do procedimento.

Cheguei em sua casa sete minutos atrasado, três e sete. Pela primeira vez os sete minutos passaram-lhes despercebidos, o que eu estranhei por ela sempre ficar ensandecida com meus atrasos. Abriu a porta e me estendeu a mão antes que eu hesitasse lhe abraçar. A distância entre seu corpo e a mão com a palma aberta a riste para mim, me fez perceber o quanto somos patéticos em situações que nos obrigam a fingir que toda a situação não passa de uma grande patetice. Aquela mão que balancei com um sorriso sem graça e que delimitava a distância - que me mostrava pela linguagem do corpo que o corpo inteiro não me pertencia mais - não parecia a mesma que acariciava meus cabelos recém molhados do banho pós sexo. Estranhei sobretudo a posição dos móveis, a falta de alguns quadros e porta retratos vazios. Seus cabelos também estavam diferentes, com um corte mais moderno. Sua boca que se movia com falas rápidas parecia que ganharia vida a qualquer momento e se deslocaria; até imaginei seus lábios voando em direção aos meus. Depois de movimentos tão mecânicos quanto os primeiros atos de um recém ator formado no palco, frases prontas com textos ensaiados minuciosamente antes em frente ao espelho e retornar pela décima segunda vez ao silêncio vergonhoso de não ter o que dizer; resolvemos subir para o seu quarto.

Ao entrar, ela que me acompanhava, fechou a porta e as luzes. Abraçou minhas costas no escuro. Despiu-se do seu orgulho inicial mesmo que na penumbra e de seu vestido preto com pequenas pedras brilhantes. Através da pequena fresta que entrava pela janela, e que refratava um minúsculo fulgor, vi seus olhos que me encaravam e eu não os reconheci. Pareciam mais dissimulados que o habitual, oblíquos, mas como Bentinho, também não saberia seu significado. Meu pau logo enrijeceu com o beijo inesperado. Seu beijo não parecia o mesmo - pensei enquanto abria o zipper depois de já ter desabotoado a calça. Recebo um empurrão que também não espero e caio nu na cama que também me parecia ser mais macia. Ansiei em vão por uma chupada; para analisar se era reconhecível ou não passava de mais uma incoerência do que eu um dia imaginei ter certeza. Subiu em cima de mim encaixando sua pelve na minha, colocou com a mão esquerda através de suas costas o meu pau em sua boceta e cavalgou. Suas coxas friccionavam nas minhas e ela sorria - percebi por meus dedos estrem em sua boca - com o roçar de meus pelos em seu púbis pelado. Com a mão esquerda fechava meus olhos - como se pelo breu pudesse eu ver algo; e com a direita tocava seu sexo em movimentos fortes e delicados que fazia eu sentir no final do meu abdome, às vezes, seus dedos que fugiam no melado. Gemia em espasmos frequentes, pressionava-me com suas pernas, sugava, agarrava e mexia-se em meu pau. Eu segurava meu gozo tentando não pensar no que estava fazendo, ou no motivo daquilo tudo estar acontecendo. Até que seus movimentos foram ficando mais calmos, sua mão foi se esquecendo em minha barriga, a outra já escorregava de meus olhos para meu peito e senti ela inclinar-se em mim. Encostou seu rosto suado sobre meu pescoço recém enforcado e disse no meu ouvido com uma voz gemidamente rouca e terna que ainda me amava. Eu gozei, claro. Quem nunca gozou pelo ouvido não sabe o que é orgasmo.

(...)

Carlos A.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Castigo

Um passo em falso e pronto! Estamos na boca do inferno/castigo. Há quem necessite de tais punições, estes são aqueles que não dão mais de dez passos sem tropeçar. Eu por exemplo, não tiro os olhos dos meus pés e ando com a atenção de um neurocirurgião em trabalho - por ter a predisposição em ser um deles. Há também quem não necessite, esses correm em lagos congelados untados com manteiga mantendo a coluna elegantemente ereta como um dançarino.
A pior maneira de castigar um desatento é com a frieza do silencio, quebrando-o de vez em quando com poucas palavras e irônicas. O castigador nada no raso do orgulho em imaginar que está fazendo o correto e sensato, enquanto ao castigado, afoga-se no mesmo rio da incerteza dos fatos. Tolo é quem não consegue discernir entre o ideal e o pitoresco. Vou exemplificar para os leitores que já tropeçaram no inicio do texto e não fazem ideia de onde quero chegar.
Uma ave fez um ninho em uma determinada árvore e ao voar para buscar restos do que poderia servir para a construção do seu abrigo, esqueceu-se de quais das duzentas árvores que haviam no raio de visão do parque estava seu ninho pré terminado. Vamos lá caro e inestimável leitor, o que deve ser feito com a ave desatenta? Observação necessária: Entender a parábola a seguir como algo cotidiano e humano representado por uma ave.
Opção um: Ajudá-la a buscar, como um bom cidadão.
Opção dois: Orientar que seja feito outro ninho, instruindo maneiras para que possa ser melhor identificado.
Opção três: Castigá-la julgando seu erro sem pensar em outras opções.
É natural e quase que inconsciente que o ser humano busque a alternativa mais fácil e rápida de se resolver um problema que lhe aflige, mesmo que a menos ideal dentre a outras, esta será a escolhida. Porque sentimentos a necessidade instintiva de solucionar e pronto - o que pode causar a volta do problema por não haver escolhido a letárgica, porém, eficaz solução.
O castigo, nada mais é que a projeção dos nossos medos de errar em alguém que errou. É caminhar olhando para os próprios pés, esperando que alguém ao lado caia para apontar o dedo e depositar sua ira reprimida em curtos passos, em quem caiu. Pois disse Jesus: "Quem nunca pecou que atire a primeira pedra". Os homens com seus braços fortes e levantados agarrando rochas com o dobro de seus pesos, prestes a irem de encontro a quem tropeçou, em segundos, lembraram de seus medos e a projeção caiu no chão, o que fez subir a poeira da vergonha. Mesmo Jesus que foi castigado por ter errado perante a visão de alguns. A ideia de erro é pessoal e mutável.
O castigado nada pode fazer se não aceitar pena. Pena que varia de peso; ora pesa uma pena, ora pesa algumas toneladas. O silencio e as metáforas irônicas como escolha de castigo, com certeza, não tem valor palpável, trazendo para o conceito real de punição, equivaleria a morte na cadeira elétrica sem chance de reencarnação.

Carlos Ant.