terça-feira, 17 de dezembro de 2013

confusão amorosa

uma bota-me para dormir
a outra tirava-me o sono
uma não permite-me ir
a outra era só abandono

uma pega-me no colo
a outra deixava-me de lado
uma prepara-me um bolo
a outra fazia-me um melado

uma sorri-me na matina
a outra madrugava tufão
uma é delicada menina
a outra era áspero rojão

uma causa-me epifania
a outra tinha-me segredo
uma tem ninfomania
a outra era rochedo

o nome da primeira,
chama-se Isabela
o da segunda
não lembro qual era

mas quanto amor sinto
por aquela que o nome esqueci
mesmo com seu modo distinto
sem ela adoeci

e se surgir a pergunta
eu não deixei de amar a primeira
já que o amor pela segunda
vem toda segunda-feira

Carlos A.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Tem pranto que parece prece
em cada canto um pranto
e em cada prato um tanto
o tanto que se refece

Carlos A.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Quando

Palavras quando não ditas
tornam-se cancro na goela
Bocas quando não beijadas
tomam-se virgens às donzelas

Sussurros quando não escutados
Perdem-se em meio as criações
Amores quando são temidos
petrificam-se doces corações

Gemidos quando não tem sentidos
formam-se duros lacaios
Desejos quando são contidos
afloram-se possíveis ensaios

Carícias quando não obscenas
amabilizam-se tecidos adiposos
Olhos quando não mirados
estagnam-se à guisa de manhosos

Carlos Ant.


não escrevo poesia
a poesia me descreve
me risca, me atiça
me usa, e me abusa
depois, por ventura
me esquece
em uma gaveta
que se quer
tem abertura

Carlos A.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Verborragia

Envolve sim, claro que envolve, o tempo é relativo, e os dias são todos os dias, uma mera coincidência, eles vão, eles voltam, mas no fim de tudo acaba sendo a mesma monotonia. Quanto vale um dia? Alguns dirão 24 horas, outros dirão que valerá o tempo que se esteve acordado, mas haverão ainda alguns que não saberão a resposta, e eu estou com eles, porque o tempo é atemporal, a pergunta: quanto tempo o tempo tem? é irrespondível, não existe tempo, isso tudo é uma ilusão para preenchermos isso que foi nos posto, essa confusão que é a vida, até que ela acabe, levando consigo o tempo, que também nunca existiu.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ruptura

E desde quando é preciso ter motivos para deixar de gostar de alguém? Não gosto mais e pronto! Assim mesmo, sem nenhum motivo intitulado o causador. As coisas tomam uma proporção incontrolável e já não tenho mais saco para ficar me dilacerando em vão. Não preciso me desculpar, não preciso de perdão, e não preciso da sua amizade; claro que seria injúria falar que nunca careci, mas é que nesse instante momento já não é mais desejada, e por conseguinte, levemos nossas vidas pelos caminhos opostos, e é isso! Claro que virá alguém, algum amigo em comum, indagar-te o motivo de nossa desunião, e nesse momento não hesite, responda: "E quem precisa de motivos para deixar de gostar de alguém?"
 
Carlos Antônio

domingo, 20 de outubro de 2013

subversão

sua vida era torta
cara sempre fechada
batia na saída a porta
bom dia ele não dava

especulava sua morte esquecida
não sabia o caminho que andava
agradecia a cachaça concebida
o cigarro maldito tragava

nos seus olhos carregava uma dor
nos seus ombros tristeza profunda
já não procurava nenhum amor
em lágrimas a noite, afunda

até hoje não se sabe onde está
deve ter fugido um instante 
se afogado, sequestrado, quiçá
ou apenas caminha distante.

Carlos Antônio

poesia vomitada

eu
que andava
tão distante
não parava
um instante
agora já não
falo mais nada

logo eu
que tinha
a mente levada
usava sempre
a escada
quase nunca
dizia não
fui deixar
assim do nada
dilacerarem
meu coração

e eu?
que toda noite
rezo o terço
quando pequeno
dormia de berço
pra deixar de lado
essa melancolia
só vomitando
uma poesia.

Carlos Antônio

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

poema errado

nessa métrica imperfeita
desse poema sem vida
o que a princípio seria
despretendida de rima
já não faço mais nada
além de te dizer querida
que de tinta sujo minhas mãos
e de tristeza toda uma vida

nesses versos sem rumo
desse poema inacabado
o que a principio seria
nada além de um emaranhado
já uso como confidência
pra livrar-me de tanto pecado
que sem mesmo perceber
já estou tão acostumado

nessas estrofes petulantes
desse poema teimoso
o que a princípio seria
digno de tamanho desgosto
o que eu ponho pra fora
é o que me desce no rosto
e o que eu ponho pra dentro
é esse poema um tanto torto.

Carlos Antônio

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

bilhete suicida

Ao homem pelo qual me apaixonei loucamente

Meu amor, escrevo-te este bilhete em meio a um surto de sanidade temporária ou a uma demência sã, não tenho certeza, e não sei se poderei terminar antes que ocorra uma recaída, pois estou amedrontada enquanto a minha mente, tentei escrever-te outras vezes, mas aqui não tenho acesso a nenhum lápis, caneta ou algo que possa usar para comunicar-me através das palavras, aproveitei então a bolsa de uma enfermeira aberta e furtei-lhe esse batom cujo borro a pequena receita de meus remédios, sei que você me pôs aqui para que eu possa ter de volta o meu controle mental, mas, essa tua ausência me deixa mais louca literalmente. Os dias sem você tem sido muito difíceis, costumo ouvir vozes que esfaqueiam meus tímpanos afirmando que você já não me ama e isso me entristece o coração, não tenho mais domínio sobre mim e esses remédios que tomo me causam sono, mas não consigo dormir.
Se puder, por ventura, algum dia ler esse bilhete, saibas que eu te amo, mesmo inconsciente, e não tenho certeza do real motivo que me levou a essa insanidade, se caso vier também a ter conhecimento de minha morte datada no dia deste bilhete, peço-te que não chores, pois, parti gozando de ótimas faculdades mentais, mesmo que temporárias, para te esperar em um local onde eu possa ter controle sobre os meus pensamentos e pensar somente em ti, te espero e te perdoo por isso, Beijos.

                                                                                                                   De sua eterna Lourdes

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

dispersão à Maria

êh Raimundo
para de capinar o quintal
e vem conhecer o mundo

a vida não espera
deixa de manha
sai dessa janela

o dia tá lindo
larga essa tristeza
seja bem vindo

vem sentir a fumaça
inalar teu cigarro
tomar tua cachaça

esquece a Maria
ela não te quer
e quer a orgia

Raimundo e agora?
vai ficar parado?
daqui a pouco
chega tua hora

Carlos Antônio

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

TUTORIAL PARA ESCRITORES INICIANTES APAIXONADOS POR NINGUÉM (ou por todo mundo) (com ironia).

Subitamente me bateu uma enorme vontade de escrever um texto ensinando a pseudo ditos intelectuais a escrever algo romântico, se por acaso, você já utiliza as instruções desse pequeno tutorial aqui apresentado, desconsidere-o.
Nomeie-o com um título grande para chamar atenção.
Inicie seu texto com um embrenhados de bla, bla, bla... Eu poderia te dar o céu... bla, bla, bla, e mais uma porrada de baboseiras melosas de coisas impossíveis pra tentar mostrar pra ela(e) o quanto você a(o) ama.
Exponha o quanto seria bom se vocês dois ficassem juntos pra sempre, e algumas frases que faria ela(e) imaginar a felicidade que supostamente poderia ofertar-la(lo), não esqueça das repetições das palavras, afinal de contas, elas são fundamentais para que o texto fique fixado.
Use, pausas, por, virgulas, alea,tórias para dar-lo um ar de superioridade, intelectual mesmo qu,e elas tenham sido postas in,devidamente.
Por fim exprima mais coisas desnecessárias, abuse de citações internas que fogem do intuito inicial (a ideia é deixar o texto com maior comprimento possível) escreva coisas fora de contexto, cite Freud, Aristóteles, e outros grandes pensadores, nunca Clarice Lispector ou Caio F. A., use perfeitamente o vocabulário culto da língua isso transmitirá uma ideia de conhecimento, ex.: "Vistes essa rosa vermelha que Eu pensei em mandar-te?", aproveite o texto para a inflação do SEU ego (quando falar de si use a letra inicial maiúscula como se estivesse mencionando uma divindade superior, caso contrário, será uma heresia/heterodoxia contra si próprio), com isso, o que viria a ser apenas mais um pensamento de senso comum de um adolescente mostrando sua capacidade monogâmica e de autoestima, torna-se, aos olhos do próprio, um pensamento revolucionário que abriria a chance de uma nova escola literária, (abuse dos parenteses, isso produz um efeito de que você pensou ao escrever, mesmo que tenha tido uma ajuda de sites de frases da internet, ou de caderninhos de versos).
E para acabar a perfeita elegia de um apaixonado por ninguém ou por qualquer que o(a) oferecem bom dia, digno de prêmio de literatura, encha-o de palavras que outrora nunca usaria tais como "ofertar", "exprimir", "monogamia", "elegia",.
Jamais, por hipótese alguma esqueça de inserir uma banda ou um cantor nacional de mpb no meio só para tornar seu texto cult, (dica: Los Hermanos).
Finalize com um dos maiores clichês do mundo, entretanto o que fará obrigatoriamente uma indagação ao leitor alvo, ou até mesmo uma releitura, os pontos de reticências! São infalíveis...

Carlos Antônio

terça-feira, 13 de agosto de 2013

intimidade pública

por que desnudas os pelos?
se são pelos pelos que eu me afago
e essa vergonha nos peitos?
já disse que em mim tens lugar vago!
por que escondes tuas nádegas?
se são em tuas curvas que pela noite vago
e toda essa timidez tamanha?
eu te levo ao céu, mas depois te trago
por qual motivo me escondes os cigarros?
se as vezes eu anseio por um trago
me proibistes de sair pela noite?
minha boemia já disse, não largo!
e toda essa religiosidade eminente?
oro à Krishna, Jesus e por qualquer mago

Carlos Antônio

ente epicentral

ja acostumei com esse silencio interno
que sempre bate na gente 
quando não se ha mais nada a dizer
essa impressão que nós sentimos
de que tudo já foi dito
e é um grande em vão continuar 
essa tentativa de auto controle 
para não precisar gritar ou fugir
do que também não se sabe o que é 
acostumei também em não temer
nem o escuro nem a solidão
nem essa incógnita que me tirava o sono
deixei de lado e distante a vaidade
que me envaidecia meus conceitos 
e me subia a cabeça pensamentos 
que não condizia com meus quereres

Carlos Antônio

convite

vem aqui e me faz uma visita?
não há mais ninguém aqui em casa
separei um cd com uma musica bonita
vamos voar, te carrego em minh'asa

preparei um café requintado
pra te subir aquele alento
o ventilador tá consertado 
e eu ando tão sedento

arrumei a colcha da cama
ansiando pra nós bagunçarmos
quero deixar tudo em chama
pra na noite os nossos corpos roçarmos

mas não me venha só de passagem
no meu coração já fiz sua moradia
traga toda sua bagagem 
quero dormir ao som da tua alegria

Carlos Antônio

ruptura



num simples encontrar de braços
os meus, os teus, os nossos

se entrelaçam em meio aos laços
afogando os afagos, magoados
sem saber o sentido da procura
apenas está ali a preencher
você sempre dizia que não iria
mas pela força
que pusera no encontrar de nossos peitos
senti que não era de felicidade
nem de tamanha satisfação

era de uma despedida,

a representação da quebra
de uma promessa feita
e que pela minha vida suspeita
foi a única que acreditei

Carlos Antônio

horacausto

me perco em meio a indecisão
ora é sim, ora é não
hora é holocausto

Carlos Antônio


terça-feira, 21 de maio de 2013

poema do coração no infinitivo.

Redigirei agora o poema do coração apertado
No papel escrever, rasgar e atirar aos sete ventos
Deixar levar por cem quilômetros, ou trezentos
Para que não fiquem assim como eu tão sedentos
E que sejam totalmente livres para no céu se encontrarem

Redigirei agora o poema do coração frio
No papel escrever, amassar e deixar que o fogo o arda
Manejar as cinzas que abrasam a flama
Permitir que seja consumido o vazio
Que a minha folha se nega em queimar

Redigirei agora o poema do coração amargo
No papel escrever, adoçar e engolir
Silenciar a alma que chora e a fazer reluzir
Abrandar as entranhas que me negaram abrigo
E submergir as vísceras a me devorar

Redigirei agora o poema do coração partido
No papel escrever, guardar e fugir
Deixar teus braços cansados e partir
Conservar meu sofrido coração cansado 
E antigos poemas ternos ousar evocar.

Carlos Antônio (Júnior)

conserva do fardo.

Eu sei que andei distante
Até fiquei um pouco afastado
Mas saibas que em nenhum instante 
Dos meus pensamentos a havia tirado
Me olhastes tão profundamente
Com os teus olhos de saudade
Que até por alguns instantes
Pensei eu ser uma miragem
Sei que despossui meus afagos
Não carrego mais meu calor
Só trago nesse meu peito o fado
E na memoria aquilo que já passou.

Carlos Antônio (Júnior)

suposição da vida baiana.

Ah se eu escutasse o que mamãe dizia
Pra não ir pro samba e não fazer poesia
Talvez agora não estaria chorando
Talvez até estaria compondo ou cantando

E se até não tivesse a noite fugido
Pelo Pelourinho louca a ladeira descer
Sair de maneira depressa, corrido
Talvez não estivesse agora a sofrer

Ah se não tivesse a noite inteira
Minha saia de renda rodado
Na enorme roda de capoeira
Minha tristeza não teria cessado

Mas se não tivesse feito tudo isso
Não teria me apaixonado
De um sentimento não seria submisso
E os meus silêncios não teria calado.

Carlos Antônio (Júnior)

pensamento existencial.

Uma parte de mim é angustia, outra me aflora a melancolia, e nesse latifúndio que me aguarda e que não hesito em renunciar meu trágico, resisto, se tão pouco somos se comparado ao eterno, o eterno não é nada se comparado ao além.

Carlos Antônio (Júnior)

tua dona.

Queria ser dona do teu sorriso 
Facilmente de ser tirado
Dos teus abraços apertados
Daqueles teus beijos de lado

Queria ser dona do teu andado
Um tanto sempre apressado
Do teu cabelo cortado
E dos teus pelos dourados

Queria ser dona dos teus olhos
Um pouco cerrados
Dos teus gestos pensados
Dos teus ombros cansados

Queria ser dona dos teus defeitos
Um pouco levados
Dormir no teu peito
Tomar banho pelados

Queria ser dona do teu jeito 
Um tanto calado
Do teu timbre perfeito
Provar do teu mesmo pecado.

Carlos Antônio (Júnior)

poeminha da distração.

Um gato?
Um ladrão disfarçado?
Ouvi um sussurro
Vindo do escuro

Percebi n'um instante
Que nada disso era
Foi meu pensamento distante
Que bateu na janela.

Carlos Antônio (Júnior)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

carência.

Carta diária de um solitário carente do dia 20 de maio
Venho por intermédio desta, afirmar que não morri, não me isolei, não desenvolvi uma depressão ou síndrome do pânico, nem estou ilhado em meus aposentos, mas de qualquer forma, muito obrigado por sua preocupação tamanha, agradeço a todas suas cartas escritas e corrigidas minuciosamente diversas vezes antes de me enviar pelos correios, que por negligência desses novos carteiros, deve ter sido entregue na casa ao lado, não se preocupe, elas já devem ter sido lidas, mas não por mim. Agradeço também aos inúmeros emails que você me destinou todo esse tempo, com toda a magnificência e indicações de filmes que você com certeza fez, mas ao enviar, descuidou e esqueceu-se de alguma letra ou ponto no meu e-mail, o que não foi possível o recebimento dos tais. Tenho a ti gratidão eterna às ligações que me fizeste só para ouvir minha voz, mas que não eram realizadas corretamente por conta do sinal de rede, essas companhias de telefonia estão cada dia mais complicadas e sempre fazem a gente de palhaço! Obrigado pelos sms's que você me mandou, mas que foram barrados por falta de crédito e foram olvidados de serem tentados posteriormente por distração. Obrigado pelas visitas que você me fez, mas pelo horário tardio, e a porta lhe receber sempre fechada, fazia você ficar com receio de chamar por achar que dormia, por fim, reconheço seus esforços por saber como ando, se estou bem, se ainda respiro etc e tal...

Carlos Antônio (Júnior)

ódio ao idem

Eu detesto a palavra idem, idem, abreviação de idêntico(?) um retrocesso, um descaso, um despretensioso "pra você também"? Um dia uma mulher falou que amava um homem, e ele virou repentinamente com um olhar tênue quase de quem se assombra e proferiu essa palavra, a mulher saiu correndo puxando os cabelos como quem puxava a alma, e ao atravessar a avenida se bateu com um ônibus escolar, o idem não pede desculpas é irredutível, maldita locução! O idem machuca, dilacera é uma armadilha do acaso, o idem é pior que a morte, é uma dose de arrogância e de ironia, é quase um dogma. Uma solução para a distração, o idem é um presente do diabo ele é quase um esquecimento, idem é não ter opinião ser um ser sem crítica, uma blasfêmia contra a vida na terra, idem é um oitavo pecado capital , é uma desatinação sem fim uma injúria o idem não tem fim, e há quem se acostume de viver de idens, mês passado me disseram que Atlântida afundou porque o idem estava banalizado e não acharam até hoje por conta da praga divina entre aqueles que ousaram repetir idem como forma de bom dia, mudaram o noventa e duas palavras do dicionário para a palavra idem, entre elas incluíam-se derivados de "fogo", "água", "morte", "vida"... Antes de afundar houve um conflito pela mudança repentina entre eles, e caiu idem do céu, e todas as casas pegaram idem, o que ocasionou uma série de idens e não restou mais idem naquele lugar (morreram confuso). Existe um movimento se fortificando dos apoiadores do uso do idem, aqueles que defendem porque acham que a vida é curta demais, e evitam repetições desnecessárias, para eles eu deixo o meu total desprezo, repetir é necessário, o idem não. A fome é a personificação do idem, é uma praga, a história sobre Hiroshima foi alterada pelos historiadores, a verdade foi que o governo americano respondeu a cidade com um idem. Durante milhares de anos Pandora abriu a caixa e saiu de dentro a coisa mais maligna que possa existir, ela o batizou de idem, que foi oculto durante todos esses anos, se procurar a história do idem, encontrará algo como "...palavra derivada do Latim...", tudo mentira, o idem é a própria mentira.

Carlos Antônio (Junior).

promessas.

Carta diária de superação do dia 27 de setembro.
Na falta de vermelho pintei a boca de vinho, maldito vinho que me fez estar escrevendo-te esta carta, desconsidere então eventuais erros grotescos de ortografia ou de situações fantasiosas, eu realmente não estou bem! - afinal de contas escrever e lembrar de ti depois de tantos desencontros e incompatibilidades de pensamentos é a maior prova disso - a verdade é que o vinho que pintei meus lábios, que por falta de seus beijos já se tomaram virgens por si só, e o vinho ingerido que era tão intenso quanto a cor que carregava em minha boca, fez-me lembrar de nosso primeiro encontro a uma década e meia atrás, então resolvi trajar aquele vestido preto com pedras pratas, que comprei mas que nunca tive a oportunidade de usar porque você achava curto demais, e sinto lhe informar, eu estava ma-ra-vi-lho-sa, inclusive me caiu bem melhor agora do que no dia que comprei, lembra daquele salto que me fazia ficar mais alta e que você também me proibia de calçar? Então, usei-o, e pela primeira vez, mesmo não estando aqui, me senti realmente mais alta que você, por fim coloquei aqueles velhos brincos que você me deu no nosso primeiro ano de namoro e que eu prometi que nunca mais iria usar, pois bem, detesto descumprir promessas!
Depois que me trajei com tudo aquilo que ti lembrava, resolvi transpassar a barreira da minha insegurança de sair sozinha, lembra? Pois é! Confesso que no início foi difícil, não tinha pensado ainda para onde iria, nem se havia dinheiro o bastante, mas consegui, o trânsito estava horrível.
No rádio começou a tocar "Atrás da porta" do Chico, maldita musica! Desejei capotar o carro ou cometer haraquiri, mas ao invés disso, borrei meus olhos, os mesmos tal quais viram os teus com um olhar como de quem diz adeus, como dizia a canção - merda, havia passado horas fazendo a maquiagem, reaprendi a passar sombra, lápis, delineador, corretivo, base e todas essas coisas que você sempre achou supérfluo, mas, que se me visse no futuro/hoje, teria a certeza de que não. Resolvi parar o carro naquele bar que eu sempre detestei quando você me levava aos domingos, e reconheço, ele realmente tem uma beleza arquitetônica barroca como você sempre afirmava, e, que pelo meu enfado preconceituoso de detestar bares, não me fez perceber, e agora entendo também o real motivo pelo qual você sempre abominava meus vestidos curtos. Passei horas em êxtase ouvindo aquelas notas do piano enquanto olhava para o meu reflexo na taça de vinho, mais vinho, mais vinho, mas venho te dizer por este manuscrito, que já me arrependo de ter o começado, pois descumpro mais uma de minhas promessas, que é não lembrar mais de ti, e eu detesto descumprir promessas!
Resolvi retornar a minha casa, e antes de sair, aos assobios e aos pedidos de me levarem embora pelos machos embriagados, que inquietam-se ao sentir o cheiro que exala do corpo de uma fêmea que suplica pelo cio, vi você espelhado em fragmentos de todos os que ali estavam, não sei se ti convém, mas recusei todos eles inclusive ojeriza, decidi vir sozinha e me arrependo, enquanto vinha, até pensei em revir, pegar pelo braço o primeiro dos tais colocar em meu carro e fazê-lo de refém sexual, mas não, chega de fantasmas em minha vida.
Apesar de saber que você não vai chegar até esse ponto do meu pequeno alfarrábio confidencial, quero ainda assim continuar escrevendo minha primeira experiência sem ti, e te mostrar que ainda posso ser bem feliz, queria que estivesse aqui agora, e visse o quão eu estou refeita, mas não hoje! Esqueci de tirar aquela sua foto do porta retrato, que continua intacto e virado para a sala de jantar em frente a mesa onde estou, seu olhar não me perdoa, mesmo eu tenho a pureza dos anjos que nunca fizeram nada errôneo, sua face em formato quadrado que torna seu queixo mais largo, sua barba por fazer por falta de tempo, seus cílios volumosos e que fazem uma curvatura quase que perfeita, seu cabelo grisalho encanecido pela idade que desce até sua testa e quase cobre seu sinal, sua pupila dilatada pelo flash que ativou milésimo de segundo antes de registrar a foto que me amedronta as refeições, o que me ocasionou uma perda considerável de peso, mas prometi que não vou mais parar de comer, e eu detesto descumprir minhas promessas!
O acumulo de sentimentos que guardo está me sufocando, não sei explicar ao certo, e eu não queria sentir esse engasgo na garganta, essa vontade louca de começar uma vida nova, mas não posso, semana que vem é seu aniversário, 2 de outubro, e ainda é tudo tão recente, estou aprendendo a andar com novas pernas, nem sei se saberei passar o seu dia natalício sem você, acho que comprarei um gato, já que a sua alergia não me impede mais, preciso de companhia, as vezes o silêncio me deixa alucinada, não vejo a hora das minhas férias acabar.
Já sinto a minha lucidez e acho que estou com sono, o galo já me avisou que está prestes a amanhecer - ainda não me acostumei com a rotina de dormir a noite, você conseguiu plantar em mim a filosofia de que a noite não foi feita para dormir - e essa é o fim de mais uma carta que te escrevo, mas que não te remeto, e rasgo e entrego para o fogo fazer bom uso, não por medo de não receber respostas, ou pela ideia ilusória que tens outro alguém que por curiosidade, venha a ler antes de ti, mas é que eu prometi para mim mesma que te enviar uma carta, seria a ultima coisa que faria em minha vida, e eu detesto descumprir minhas promessas!
PS: Te Amo
Carlos Antônio (Júnior)