quinta-feira, 20 de novembro de 2014

borboleta no estômago pode não ser o que aparenta

     Surge ela de uma lagarta exterior que nós permitimos - diversas vezes inconsciente - adentrar em nossas vidas. Ela se aconchega em nossa pele, com calma malemolência, dissimulada. Sem que percebamos coloca seus ovos dentro de uma camada profunda em nossa carne. Não percebemos o que de fato aconteceu até que vejamos centenas de outras lagartas brotar de nosso corpo; desesperados tentamos sem sucesso nos livrarmos, mas são muitas, e parecem surgir em escala aritmética. Caem de nossos ouvidos, eclode de nosso peito, aparecem gradualmente sobre pernas e braços e o que nos resta se não aceitar a condição? Por sorte elas desaparecem, uma a uma, lagarta-por-lagarta. Mas sempre fica, além das marcas na pele, apenas uma - a hospedeira. Esta que irá nos acompanhar ali na alma, nem dentro e nem fora, sobre.
     Sendo bem alimentada por paranoias e tristeza ela cresce forte, viril. Não demora para que ela se enclausure  em seu casulo para a grande metamorfose. Depois que a lagarta vira borboleta, pronto! Sentimos ela passear internamente, ela se esparrama, faz festa e dita as regras. Com o passar do tempo e o costume adquirido nos adaptamos com sua presença. Batizamo-nos-a com apelidos parecidos com o que damos aos pupilos da família  Dê, deprê e ainda deprezinha; uma forma de camuflar o estrago que acontece conosco ou apenas uma maneira de demonstrar que não é grave o que estamos sem capacidade mental para explicar.
     Quando ela se dana sentimos na pele o "Efeito Borboleta", bate ela suas asas em nossa cabeça e o coração entra em cataclismo, inverso idem. Quantas vezes uma borboleta bate as asas por minuto? Nossa sorte é que não é um beija-flor, já imaginou a teoria do caos "Efeito Beija-flor"?
Ela é grande, sinuosa, com negras asas. A um míope severo, imaginaria estar vendo uma vespa gigante qualquer, mas somente pessoas com olhos treinados e quem já conviveu com essa espécie não tão rara, reconhece de longe do que se trata.

Carlos A.

Nenhum comentário:

Postar um comentário